quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ruído de motores, e outros mais poluentes.



Hoje, para variar, decidi escrever sobre um assunto ligeiro e fútil. E vou cumprir embora houvesse motivos sérios e tentadores para não o fazer:  efemérides, praxes e sondagens.

- Segunda-feira, 27 de Janeiro, comemoraram-se os 70 anos da Shoah;
- Benito Mussolini, Il Duce (DUX), foi o primeiro governante europeu a aprovar e aplicar  leis raciais, no caso específico,  contra os judeus, em 1938. Hitler limitou-se a imitá-lo e foi o que todos sabemos;
- Segunda-feira, 27 de Janeiro, alguém entregou na Sinagoga, no Museu Hebraico e na Embaixada de Israel, embalagens com cabeças de porco, e nas paredes da Escola Hebraica foram pintadas cruzes suásticas. Tudo em Roma;
- Em França, uma sondagem deu 23% de intenção de voto no partido da Senhora Le Pen, à frente de “gaulistas” e socialistas;
- Na Grécia, na Hungria, na Bélgica, na Escandinávia, partidos de extrema direita começam a subir nas sondagens e, em alguns casos, a eleger deputados;
- Quem decide das praxes em Portugal, toma, na hierarquia da Comissão das Praxes - COPA - o nome de DUX;
- As praxes, em Portugal, são um assunto privado das Universidades e dos Politécnicos, sobretudo dos estudantes, obedecendo a regras específicas internas, ouvimos na televisão a pessoas sérias e responsáveis;
- O Professor Marcelo disse à Judite que os caloiros aceitam as praxes para não serem excluídos e fazerem parte de um grupo, e desviou outras perguntas da Senhora.  Ocorre-me abusivamente a palavra rebanho;
- O Professor Marcelo foi excluído do seu grupo (rebanho?) por um animal de coelheira;
- Praxes sem lei num país sem lei, ou com leis específicas para cada grupo, consoante o berço, o partido ou a conta no banco.
Por questões de sanidade mental - o geriatra disse-me que não devo pensar muito - voltemos ao assunto que a imagem e o título dão a entender.
Dia 24 fui ao Casal da Mira, ali entre Famões e a Brandoa,  fazer umas fotografias numa garagem cheia de automóveis antigos daqueles que se alugam para os casamentos de Sto. António;  tiraram para a rua uma Arrastadeira para fazer espaço e avançaram com o “meu” carro;  não é que me calhou um Mercedes 190 SL, modelo de que fui feliz proprietário de 1969, ano em que o comprei ao cineasta Filipe De Solms por 48 contos, a 1972, e ainda por cima com um 23 no meio da matrícula. Coincidência que me levou a falar-vos dos meus automóveis, e logo, também por coincidência, aquele da imagem, um Wolseley Hornet, que alguém associou ao Jailhouse Rock, não era meu. Como não eram meus muitos dos que guiei, ou porque estavam à mão ou pelo prazer que tinha em experimentar carros novos.
Meus, realmente meus, não foram assim tantos, pelo que me é fácil fazer a lista, fornecer pormenores e linkar imagens, arriscando-me que o assunto não interesse ninguém. Mas tal como o “Moínho de Vento, 23” é só um testamento. Cheio de preguiça (de funcionário público ainda por cima reformado) não me apetece dar uma ordem cronológica, pelo que os semeio à toa segundo as minhas lembranças.
- Um Fiat 500 F de 1969, creme, em Roma, durante 10 anos e mais de 50 mil km, que julgo esteja no Porto. Saudades.
- Um Peugeot 304, verde, com o qual viajei de Lisboa para Sófia (O Vestido Azul de Clermont Ferrand), e acabou num grave acidente na Grécia, na estrada entre Larissa e Linavates. A esquecer.
- Um Jiguli 124, vermelha, carrinha soviética fabricada sob licença Fiat em Togliattigrad. Em Sófia.
- Um Citroen 2 CV, creme, que comprei a um oficial do COPCOM, no ano em Lisboa entre Paris e Sófia. Lembro-me de irmos em 9 até à praia; 5 eram pequenos e quase não ocupavam espaço. Inconsciência.
- Um Mercedes 250 SE, creme, comprado em Atenas por 1.500 dólares depois do acidente com o Peugeot 304, que me deixou apeado. Tinha um pneu Mabor e balançava aleatoriamente nas curvas.
- Um Volkswagen Golf I, preto, primeiro pequeno diesel do mercado, que fui de Sófia buscar a Wolfsbourg, e tive em Lisboa muitos anos para as férias.
- Um Mercedes 200, preto, que comprei ao Embaixador da Holanda em Sófia, levei para Roma e foi-me roubado num parque de estacionamento com guarda  na Base NATO de Bagnoli, perto de Nápoles. Neste momento já está dentro de um contentor com destino à Albânia, disse-me o polícia a quem apresentei queixa.
- Um Ford Fiesta, verde, que comprei novo em Roma após o roubo do Mercedes 200, e trouxe para Lisboa em 2002, conservando-o até que a Carla e o Octávio me deram o Golf IV, preto, que é o carro que tenho agora. Também dei o Fiesta a um familiar. Dois bons carros.
- Um Neckar Jagst Riviera 770, cinzento, coupé derivado do Fiat 600, fabricado na Alemanha Democrática sob licença. Eu tinha 18 anos e adorava acelerar nas ruas com pouco tráfico de Lisboa.  Era 1961.
- Um Fiat 128 - excelente carro -, vermelho, que comprei novo em Paris quando vendi o Mercedes 190 SL a um emigrante português, porque não tinha dinheiro para as reparações e porque só tinha 3 lugares e os miúdos estavam a crescer.
- Um NSU Prinz IV, verde, com o qual o pai do Pedro Lamy, que mo vendeu, me ensinou a fazer piões.  Não chegava aos 130 mas pintei-lhe o capot de preto baço para evitar os reflexos do sol a alta velocidade. Idiota.
- Um Hillman Imp,  break de chasse castanho. Lembro-me de entrar e sair com ele, durante 3 anos, os portões do Destacamento da Pontinha do Regimento de Engenharia 1. Muitas das vezes de serviço e armado, só para ir dormir a casa, arriscando um merecido cadastro que me teria vedado as portas da função pública.
- Um Fiat Pulmino 900, cor de abóbora, 9 lugares, que fui de Sófia buscar a Turim, e que fez uma viagem de férias Sófia-Lisboa-Sófia, ou sejam 7.000 km. Numa garagem em Sesimbra mandei-lhe construir um berço sob o chassis para alojar o pneu sobressalente que, de origem, tinha lugar diante dos joelhos do passageiro da frente. Engenhocas.
- Um Nissan Patrol, creme, que comprei ao Gabinete Militar da Embaixada Americana em Sófia, com oferta em envelope  lacrado, like is where is; ganhei-o com uma oferta de 1600 dólares. Vendi-o ao Encarregado de Negócios do Equador pelo mesmo preço.
- Um Mercedes 220 D, cinzento, que fui de Sófia buscar a Estugarda, conservei 6 ou 7 anos, acabando por o vender a um funcionário da Embaixada da Hungria. Lembro-me de o ter encomendado sem estrela, porque os meninos socialistas adoravam colecioná-las. Contradições.
- Um Triumph Mayflower, preto, todo em ângulos quase sem qualquer curvaturas na carroçaria, que comprei em Lisboa, antes da diáspora, com uns dinheiros que ganhei com um projecto de arquitectura.
- Um Peugeot 504, creme, que me foi oferecido pelo saudoso Embaixador Zózimo Justo da Silva quando deixou Sófia como Conselheiro. Vendi-o a um estudante congolês da Universidade Climent Ohridsky, chamado Barrabaz.
- Um Simca 1000, cinzento, com o qual fiz a viagem de núpcias - três dias na Serra da Estrela -, onde chegámos debaixo de um tremendo nevão. Já não havia jantar na Pousada, tão tarde era, e comemos ovos mexidos com presunto. Penso que as Seichelles e as Maldivas ainda não existiam.
Espero não ter esquecido nenhum, e já não tenho coragem para fazer o elenco daqueles que, não sendo meus, como o Wolseley Hornet da imagem, guiei por necessidade ou prazer, incluindo os Caterpillar da tropa, os dumpers das obras, ou de uma camioneta Hanomag F55 com que distribuía materiais de construção pelos estaleiros. E carroças de mulas, em casa da minha Avó materna, nas faldas da Serra de Montejunto. Menos mal, direis vós!
Abraço.
Herdade das Valadas, 30 de Janeiro de 2014
Octávio Santos