sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Juro que os anjos existem; conheço um ou dois!


Quando me sento para escrever, sem rumo nem ideias, faço-o com a certeza que qualquer coisa virá em meu auxílio. Tranquilo, porque invariavelmente assim sucede. Não me cansando da beleza da imagem do meu blogue, pergunto-me sempre qual o virtuosismo necessário para pintar retrato tão revelador do seu sujeito, quase nos dando a ouvir as notas que a artista, que se percebe estar toda dentro da sua música, extrai do seu violoncelo. Releio os textos anteriores e penso que daria tudo para conseguir, como acontece com os grandes escritores, transmitir aos leitores exactamente aquilo que lhes quero dizer. Em vão.
 
Dou de caras com uma frase do último texto, a qual relata a visão de um anjo empoleirado num pinheiro manso no IPO, o que, a uma semana de distância, não sei se foi vivida ou sonhada: “…pareceu-me ver um anjo que me acenava recomendando; não te esqueças de tomar sempre as decisões mais justas!” Tudo é possível. Já quando escrevi aquela visão intitulada “ A Última Tela de Picasso”, que encerra o meu “Moínho de Vento, 23”, fiquei com a dúvida se o mesmo não me teria sido transmitido por um anjo, ou se ao escrevê-lo não o teria feito para um anjo. Mas que importa a verdade - só mentira…só mental.., dizia O’Neill - se são estas dúvidas, este lusco-fusco que habito entre a realidade e a ficção, que vêm em meu socorro quando os neurónios desesperam em busca de um objecto para a escrita?
Agarrando-me desesperadamente a estas três pistas, pintura, escrita e anjos, atiro-me à odiada net, o que faço sempre relutantemente quando preciso de tapar os buracos da minha cultura que mais parece um crochet daqueles com que a Joana Vasconcelos veste barcos, sapos e lagartos, e navegando, não à bolina mas às bolandas, descubro, através desta última palavra, o escritor Domingos Monteiro, autor do romance “O Primeiro Crime de Simão Bolandas”, que também foi político e jornalista, fundando o Partido da Renovação Democrática e o Diário Liberal, o qual tinha uma ligação familiar com o também escritor e poeta D. João de Castro, tendo casado com uma sua Neta. Deste, fui sabendo que, para além do romance e da poesia, escreveu também teatro e livros para crianças, fez parte na sua juventude, com Júlio e Raúl Brandão, Justino de Montalvão, Alberto de Oliveira, Eduardo d’Artayett, Inácio de Pinho e Celso Hermínio, de um grupo literário denominado “Nefelibatas” que teve a sua importância na época. Foi ainda jornalista, já que escreveu durante 30 anos artigos de fundo para “O Primeiro de Janeiro”, focando principalmente a história das grandes famílias portuguesas, das quais a sua fazia justamente parte, tendo deixado um notável acervo de notas sobre a genealogia da sua Família, as quais foram mais tarde aproveitadas por um dos seus Netos, João Paulo de Castro e Melo Trovisqueira, que as coligiu, enriqueceu e desenvolveu, lançando aos seus descendentes o desafio da continuação desse trabalho de genealogia, heráldica e estudo das casas e solares que foram pertença e cenário da vivência da Família. Tal como a mim acontece ser quase sempre salvo por um anjo, pode ser que neste caso também um anjo recolha este desafio honrando a vontade de quem o precedeu, despertando “ sombras que reavivam a memória e despertam os espíritos”: coisas que só mesmo um anjo pode fazer!
Como a net é uma espécie de cerejeira virtual, à qual trepando não é possível deixar de provar os seus frutos, de clique em clique descobri também, e neste caso trata-se de pintura e beleza, que D. João de Castro era Pai de Brites Maria Filipa de Castro e Melo, Senhora de tal sensibilidade pictórica que não resisto em obrigar-vos a admirar um dos seus auto-retratos, onde encontro a mesma serenidade que me enleva na “minha” Suggia. Pintou outras muitas coisas, sempre suaves e belas, naturezas mortas, paisagens da sua Vila do Conde, cenas de vida quotidiana, mas aquele auto-retrato tem muito dos anjos que me rodeiam, que procuro, e que, muitas vezes e por minha fortuna, me aparecem nos momentos certos. E quem me garante que o anjo do pinheiro manso do IPO não é o mesmo que perpassa por todo este confuso texto que fui alinhavando em patchwork por falta de imaginação?
Anjo que, mesmo se gerado por Carlos Magno e Afonso Henriques, se digna vir à terra ajudar os seus eleitos, sem olhar a linhagem ou berço.
Natália Correia disse:  "Creio nos anjos que andam pelo Mundo". E eu tenho a certeza que o anjo que vi em Palhavã era real, assim como a mensagem que me sussurrou. Lembro-me agora que tinha os olhos claros e o cabelo como ouro. Juro que os anjos existem; conheço um ou dois. Mas há muitos mais, basta que cada um procure os seus.
Abraço
 
Lisboa, 21 de Fevereiro de 2014
Octávio Santos