quinta-feira, 13 de março de 2014

Partir ou Ficar? Prós e Contas versus Pós e Contras.



Uma dúvida não tenho, e penso que ninguém terá: Portugal está a ser bem governado e no caminho certo. Se assim não fosse não estaria agora um grupo de 70 antipatriotas invejosos, tão diferentes entre eles, a envidar todos os esforços para desacreditar a acção do governo e dar a saber lá fora que nem tudo são rosas. Lembra o Henrique Galvão a desviar o Santa Maria. Que depois voltou. Todos voltam. Lembra-me, como se fosse hoje, o Dr. Salazar no cais de Alcântara a debitar a frase da vitória: - Portugueses, a Santa Maria está de novo entre nós! Como a capa da Visão desta semana: Porque ri Relvas? Porque voltou. Todos voltam. Só estes 70 não se vão embora, destilar o veneno pessimista das suas calúnias nas margens do Quanza ou do Orinoco. De Leite a Louçã venha o Coelho e escolha. Aliás já escolheu, com o apoio musculado de Belém: todos culpados se o país não for para a frente como programado – agora com o Relvas novamente ao leme do Partido – porque estas coisas não se dizem para mercado ouvir. Já o que o Ministro da Defesa disse ao General Garcia Leandro, confessando que não percebendo nada de defesa tinha mais capacidade para fazer reformas e cortes, revela competência, sentido de Estado e patriotismo. Assim, sim!

Já na semana passada me tinha referido ao mal barbeado Paulo Rangel que achava que o PS não devia andar por aí a badalar o seu desacordo. A Bem da Nação. Como o Dr. Mário Soares não deveria ter escrito o “Portugal amordaçado”. Tenho a sensação que os relógios em Portugal não andam, mas como Deus é português e os relógios parados dão horas certas duas vezes por dia, lá vamos escapando. Quem não está de acordo, agora que Caxias e o Tarrafal são só praias, mude-se! Ele há tantos países para onde emigrar, verão que vão ter sucesso e a televisão aberta para o documentar diante do olhar basbaque daqueles que não tiveram ainda a coragem de dar o grande passo. É que depois volta-se, muitas vezes a rir; ou depois do 25 de Abril para ocupar as cadeiras dos que saíram, ou porque o balbuciar pateta da Grândola tenha caído no esquecimento, ou porque já se amealharam uns pobres cobres em francos suíços, em euro/marcos ou euro/francos para fazer a casa na terra, todos voltam. Porque ri Relvas? Porque voltou. Porque é que os jovens investigadores da saúde se mostram risonhos, via skipe, de Londres, nos Prós e Contras? Porque partiram. Partir ou ficar, eis a questão.
Até o Tordo do “Vává” – nada de depreciativo, mas era aí que o encontrávamos no tempo da Tourada -, teve de pegar na guitarra e ir até ao Recife. Com carta do Filho – todos os Filhos escrevem coisas exageradas quando falam dos Pais – ou sem carta do Filho, com polémicas estéreis e invejosas (até o Henrique Monteiro, um dos 70,  se confessa invejoso no prefácio dos meus Hieróglifos), ou na banalidade de mais um que se sentiu prisioneiro num país bloqueado pelos cadeados da Troyka/EMEL que os agentes da ordem nacional distribuem alegremente com a consciência do dever cumprido, o certo é que uma figura da cultura deste país bateu com a porta. Um país sem cultura não tem futuro. Estarão à espera 20 ou 30 anos que ele volte encaixotado para que, em abaixo assinado, as forças vivas da Nação lhe proponham o Panteão? O último proposto para tal honra póstuma teve de emigrar para os Estados Unidos, para o Canadá e para o México quando os joelhos fraquejaram. Para além da falta de cultura temos também falta de memória? Ou será este Portugal umas eternas Obras de Santa Engrácia que, acabadas após séculos de indecisões e esperas, são objecto de discussão para decidir quem entra e quem não entra?
Eu também parti. Tinha 27 anos, uma Família, dois Filhos, e a minha partida que, por eu não ser ninguém, passou despercebida, teve dores e resultados cuja dimensão e intensidade só são conhecidos por um número tão restrito de pessoas que sobra um dedo de uma mão para os contar. Mas que importam estes pormenores àqueles que fazem partir as pessoas?  E também voltei. Todos voltam. E, se a partida da partida foi, no meu caso,  aparentemente ganha, que dizer da chegada?  Porque chegar a um lugar que chegou ao estado a que chegou, tira a alegria de chegar a qualquer um. Também porque nunca se chega definitivamente a lado nenhum. Não se chega, está-se. Em Angola está-se, dizia um cartaz de propaganda no tempo da outra Senhora. Em Angola volta a estar-se para os que, partindo, escolheram o país da Senhora Dona Isabel. Deus sabe se para voltarem como da outra vez, agora com a “ajuda” das taxas aduaneiras.
No êxodo bíblico que Moisés guiou, com milagres à mistura, para fazer chegar o seu povo à Terra Prometida, para, uma vez  nela instalados  deixarem  matar um que dizia a Verdade,  para séculos depois voltarem a partir e pagarem na pele o seu “pecado” por esse mundo fora, e voltarem a voltar depois de quase banidos da face da Terra, e chegarem a casa para descobrirem que não era só deles, e que os novos inquilinos não falavam a mesma língua nem rezavam ao mesmo Deus, e, ou tu ou eu, vamos mas é discutir isso com uma linguagem que cheira a pólvora e sangue dentro das fronteiras, e a dinheiro nos areópagos internacionais, onde tanta coisa já foi decidida para não ser cumprida, como é uso entre as pessoas de bem que os frequentam. E que sabem muito bem o que fazem.
Não sei se serão também 70 os componentes do coro que, na ópera “Nabucco”, de Verdi, cantam a ária “Va, Pensiero”, conhecida como “Coro dos Escravos”, mas estou seguro que mais de 70 ou mesmo 700 milhões de pessoas já se emocionaram a ouvi-lo. Escravo era o povo hebreu sob o jugo de Babilónia, cujo implacável Rei Nabucodonosor saqueara o Templo de Jerusalém antes de os levar feitos escravos para as margens do Eufrates; e é nestas margens que os hebreus acorrentados cantam para celebrar a Pátria perdida. Quando Guiseppe Verdi escreveu a partitura de “Nabucco”, todo o norte da Península Itálica estava sob o domínio do Império Austro-húngaro e o desejo de liberdade do povo lombardo, veneziano e piemontês, é exprimido pelo compositor na ária que passou, desde a primeira vez que foi cantada na Scala de Milão em 1842, a ser o seu hino de liberdade, tanto que começou a aparecer escrito nas paredes de Milão, Turim, Verona, Pádua e Veneza, “Viva Verdi”, que mais não era que um disfarçado “Viva Vittorio Emanuele Re d’Italia”,  que no dia do seu funeral, em Milão, o povo entoou espontaneamente o coro, e que, ainda hoje, quando se fala em mudar o Hino de Mamelli, venha sempre à baila o “Va, pensiero”.  Cada povo tem a sua ânsia de liberdade e a sua maneira de a exprimir.
Hoje, em Portugal, temos a liberdade de partir ou ficar, consoante o partido ou a casta a que pertences, o apelido que te calhou em rifa ou obtiveste por aliança, o grupo mais ou menos secreto em que estás filiado, ou o grau de importância dos segredos que conheces dos palácios, de todos os palácios, daqueles do governo aos da finança. Na Segunda-feira passada o programa “Prós e Contras” versou o tema “Ficar ou Partir?”, da sua nova sede na Fundação Champalimaud, e eu pergunto-me, ingénuo, se esta nova sede é a apropriada para se poder ter opiniões em total liberdade sem medo de perder o emprego, e falo daqueles que ainda têm a felicidade de o terem. Foi, digamos, um Prós e Contras à medida do medo generalizado. Recordo só o fenómeno de alucinação colectiva que levou quase todos a considerarem “A Gaiola Dourada” como um grande filme, chegando a falar-se de uma nomeação ao Óscar – os mesmos que querem candidatar o Carnaval de Torres Vedras a Património Imaterial da Humanidade -, quando, sem falar nas perigosas mentiras que veicula (propaganda?), é, na minha opinião, um filmezeco da treta.
Como todos sabem sou incapaz de fazer o relato de quanto vi e ouvi de uma forma sistemática e ordenada, recorrendo por isso a alguns flashes que chamaram a minha atenção, e que passo a repetir sem ordem ou nexo entre eles, jurando não inventar nada como é pecha minha; digamos, um puzzle para os leitores comporem à sua vontade, já que as peças são de fácil encaixe e no fim bate sempre tudo certo. Como dizia António Gedeão: Vê moinhos, são moinhos, vê gigantes, são gigantes!
- Havia mais Prós que Contras, e do lado dos Contras havia, ainda assim, uns pós de Prós;
- Que os Prós, cujas contas lhes devem sorrir neste momento (em tempo de crise há sempre quem tire as castanhas do fogo), eram, desculpem a leviandade, todos feios, mal amanhados, arrogantes e, o pior, detentores da verdade;
- Que as PPP’s, a dívida pública, o BPN e as sinecuras, favores e mordomias dadas de mão beijada a banqueiros e golden boys, não eram responsáveis pela situação e não eram para ali chamadas, segundo as contas dos Prós;

- Que, segundo os milagrosos pós dos Prós, nunca como hoje houve tantas oportunidades em Portugal, e que temos é que encontrar soluções e dar um pontapé na crise (um ou mais, lembrando-me do CR7 contra a Suécia);
- Que Portugal é um país em que se desperdiçam oportunidades. Um dos feios (porcos assim assim, nunca maus), disse que quando se fizeram os descobrimentos se gastaram os proveitos a fazer a Torre de Belém e os Jerónimos. Tinham os leitores consciência de pertencer a um povo perdulário, pergunto eu atónito?
- Que há dois países em Portugal, e o que lhes interessa é aquele que produz e cria emprego, citando o Engº. Belmiro de Azevedo como exemplo a seguir, e que os salários que hoje se pagam em Portugal são aqueles possíveis, e são um dos atractivos para o investimento, mesmo se insuficientes para dar uma vida digna a quem trabalha no outro país que não lhes interessa;
- Que em Portugal não há respeito pelas instituições porque estas não se dão ao respeito, isto para dar valor à tese que o Estado está a mais, ou seja, a estorvar a “freenança”;
- A única, toda Contra na mesa – Raquel Varela, investigadora e formadora -, sem contas a defender nem pós de perlimpimpim a usar, que teve de chamar mal educado a um dos “brilhantes” Prós que lhe perguntou quantas pessoas ela empregava (um cavalheiro!), lá ia dizendo que:
     - As pessoas estão fartas;
     - Há crianças gordinhas com fome calórica;
     - As únicas coisas que unem os portugueses são o desemprego e o desespero;
     - Os jovens saem porque não têm futuro;
     - A política de terra queimada da Troyka, aceite e apoiada por quem nos governa, usou bombas inteligentes num  bombardeamento humanitário. Com efeitos colaterais, isto é, nós.
Um dos jovens Contra na sala, desempregado como quase 30% dos seus coetâneos, disse que havia dois países em Portugal, concordando com os Prós. Basta descer a Avenida da Liberdade de dia e de noite. De dia as grandes firmas a resplandecer para os seus endinheirados clientes. De noite a miséria a dormir na soleira das suas portas e montras. Disse ainda que, a emigração é uma coisa boa se não for forçada. Como válvula de escape económico e social, é uma violência que destrói uma geração, ajudando a criar racismo e xenofobia nos países receptores, como estamos a assistir todos os dias.

Em Portugal estão a ficar aqueles Contras que não contam nem têm conta no banco, desempregados ou com salários de miséria, e aqueles Prós premiados com uns pós de magnanimidade, traduzidos em salários e prémios de nível europeu; para os amigos e os amigos dos amigos, vai sempre chegando.
Cheguei à conclusão, se bem compreendi tudo, que há sempre uns pós para compensar quem nunca é Contra, mesmo que se trate da omissão de regulamentação que competia ao Banco de Portugal; Vitor Constâncio é o exemplo. E sempre umas contas para os Prós que ajudam a enterrar os Contras com declarações tipo “- Ai aguenta, aguenta!”, da qual o banqueiro Fernando Ulrich tem direitos de autor.
Permitam-me dois anúncios:
Ricardo Araújo Pereira vai ter, a partir de Abril, um tempo de 5 minutos após o telejornal das 20.00 horas da TVI, intitulado “Melhor que falecer”, para dizer aquilo que os jornalistas não podem dizer (sic).
Daniel Oliveira dá uma conferência no El Corte Inglès, dia 14/3, às 19.00 horas, intitulada “A morte lenta da democracia”.
Peço desculpa por terminar plagiando uma admirável frase do teólogo, escritor e poeta José Tolentino Mendonça, que encerra a crónica "Obrigado, Luís Miguel Cintra”, na sua habitual rubrica semanal “que coisa são as nuvens”, publicada na revista do Expresso de 8 de Março último. 
 “ Na política não há nada mais fácil do que conseguir um milagre. Mas se me disserem que é política, eu respondo que não é.”
Ajudem-me sff porque já não sei onde vivo e esqueci o caminho de casa. Deve ser da idade.
Lisboa, 13 de Março de 2014
Octávio Santos