quinta-feira, 3 de julho de 2014

ÚLTIMA HORA: o pintor falsário que prestou falsas declarações sobre a última tela de Picasso, ataca novamente seguro de beneficiar da impunidade vigente no interior das quatro linhas do seu rectângulo habitacional.


Ele há sonhos que te complicam a vida, criando a confusão e o caos, e não me refiro ao sonho da anunciada vitória no Brasil nem àquele de viver num país decente, que esses, ao menos, nos deixam uma esperança para o futuro, mas de um sonho sobre pintura, provocado talvez pela impunidade com que escrevi a “Última Tela de Picasso”- pg. 141 do meu “Moínho de Vento, 23” -,  já que não houve uma única voz a denunciar o falso da minha pintura literária, havendo mesmo quem a transpusesse com grande arte  para a  tela, acrescentando valor àquilo que, para além de valor não ter, deveria ser punido por desrespeito da verdade. E ainda bem que falo de sonhos, até agora só meus, e de textos e pinturas circunscritas a um restrito número de pessoas conhecedoras dos factos, porque no âmbito do país a coisa fia mais fino e estes dislates não são aceites, ou então não seríamos a Nação que somos, e de que nos orgulhamos, com quase 900 anos de história que curiosamente se cumprem no ano do meu centenário. Cá estarei para festejar!

Mas vamos a factos que nos tranquilizem antes de entrar em divagações sonhadas que nos poderão desviar para uma outra realidade, esta virtual e inquietante. Temos, hoje e agora, grandes homens que o mundo nos inveja. A França ainda hoje vive do prestígio do General De Gaulle, o qual, para além do apelido se confundir com a Pátria, a punha acima de tudo em todos os seus gestos e acções, até no seu sempre repetido “Vive la France” quando testava um microfone. Depois, pobre França, com Sarkozy e Hollande, este com nome de outro país, não lhes resta que recordar o General e a sua “grandeur” e votar naqueles que ele combatia e desprezava. Nós, felizmente, temos o Presidente Cavaco Silva, a quem dei o meu voto sendo por isso o "meo" presidente (a), que acaba de receber o diploma de “Bom Aluno” das mãos do gauleiter germânico, após ter provado, sob interrogatório, ter aprendido a lição. Reparem na diferença: para De Gaulle existia a França e o sonho de uma Europa do Atlântico aos Urais, para Cavaco Silva existe “a minha Família” (sempre que possível no Salto do Lobo) e o sonho realizado do Atlântico à Arena MEO. Talvez por isto o Miguel Sousa Tavares lhe chamou palhaço - com a legítima indignação do Chapitô -, sem qualquer consequência, não por ser filho da figura ímpar que tardiamente mereceu o Panteão, e mesmo assim empurrada por Eusébio, mas por ser compadre do Dr. Ricardo Salgado. O mesmo não aconteceu ao desesperado anónimo que vociferou parte da sua cólera legítima sobre o ilustre personagem, que esse sim, caiu sob a alçada da lei, condenado a pagar uma coima igual ao valor da magra reforma declarada em tempos pelo ofendido. Uns perdoam-se porque estão encostados aos donos do país, outros castigam-se porque são fracos, restando a tríade de amigos incómodos que, também eles patriotas impolutos, pugnaram pela grandeza da Pátria, confundindo-a com as suas algibeiras, no Governo, na SLN, no BPN, na Galilei, em Maricá, Marrocos ou Cabo Verde, batatas quentes que não se sabe agora o que lhes fazer.

Tencionava passar já para o outro assunto que interessa a Nação para além da política, isto é, o futebol, mas devo deixar uma nota sobre o Dr. António Costa porque, passando várias vezes por semana na Avenida Edgar Cardoso - aquela das pegas, entre a Rua Castilho e o Parque Eduardo VII, e estou já a ouvir perguntar o que é que vou lá fazer com a minha idade -, e tendo de circular a 20 à hora tal é o estado miserável do piso, me pergunto se tal é devido a uma exigência de marketing da Associação Nacional das Peripatéticas para fazer abrandar os clientes, ou se para aquele que deu ultimamente razão a Unamuno, que disse que Portugal era um país de suicidas, é tudo normal e é assim que vai querer o país quando for Primeiro-Ministro: esburacado mas com um empreendedorismo agressivo.

Mas vamos lá ao desporto rei só para vos dar parte do meu orgulho pela maneira como os rapazes se bateram, pelos 5-1 à Irlanda durante a excursão aos States para ver se o clima era idêntico ao de Manaus, pelo justo spread que nos divide da Alemanha, pelos 2-1 ao Ghana que nos coloca no 18º lugar, só abaixo do Equador na segunda metade da tabela, pela excelente actuação do corpo clínico coadjuvado por um fisioterapeuta do Real Madrid, mas sobretudo pelas fortes convicções do seleccionador Paulo Bento que, não abandonando o barco (pávidos cobardes de outras selecções derrotadas demitiram-se ou puseram o lugar à disposição) e prometendo a mesma leal e esforçada tripulação para o Europeu de 2016, dando-nos a certeza que, se não foi desta será para a próxima, se Deus quiser e desde que o Diabo não se oponha. Do que não estou a gostar é da maneira como os comentadores desportivos (parecem aqueles comentadores políticos que opinam, dão bitaites e mandam recados, entre as reuniões do Conselho de Estado de que curiosamente alguns fazem parte, um havendo que até faz pequeninas revelações à sua medida), estão agora a revelar coisas que já sabiam antes: que para além do Godinho da sucata de Ovar há um outro que faz a chuva e o bom tempo na Federação, que o agente de Paulo Bento tem influência nas suas escolhas (quem diria!), que quem não tem a password fornecida pelo CR7 aos seus amigos não tem acesso à equipa de todos nós, que são as apostas on line que ordenam o que se faz e o que não se faz no mundo límpido e transparente do futebol. Apetece-me limar os caninos e emigrar para o Uruguay!  

E agora finalmente o sonho, pois já estava a esquecer o assunto principal que me moveu a escrever desta vez, mas que era indispensável explicar o porquê de não sentir medo das consequências do crime artístico cometido, lá isso era, porque quando o mal se confunde com o bem a prepotência sente-se com direitos. E foi isso que se passou no meu sonho. Eu conto, embora a normal confusão dos sonhos não permita um relato linear e verosímil. Num museu, não sei qual, não sei onde, uma exposição de obras de grandes mestres da pintura estava patente ao público. E eu estava lá, e também Ela (a mesma da Última Tela de Picasso), não dando porém pela minha presença como se eu fosse o Homem Invisível, no meio daquelas salas repletas de maravilhosos quadros, cada um na sua moldura, a ”Madonna col Cardellino”  e “La Fornarina”, de Raffaello, mulheres feias e malditas da Paula Rego que parecem acabadas de violar por um dos seu cães raivosos, também eles mulheres, “A Vénus ao Espelho” de Rubens, “Amore  Sacro ed Amore Profano”, de Tizziano, homens que reflectem na face e no corpo  disformes o horror  que lhes vai na alma, de Bacon, a “Donna con l’Ermelino” de Da Vinci, e tantas mas tantas outras maravilhas que não me vou pôr aqui a elencar até porque - os sonhos são estranhos -, não me lembro quais fossem, as cores esbateram-se-me na memória e começo a ver obras que não existem, ou se existem não estavam lá, ou eram apenas montagens feitas pela minha imaginação. Assim, vi um Hitler no “Cristo” de Mantegna, um “Retrato de Dorian Gray” em mosaico degenerativo com fim (in)Fausto à vista, a “Mulher Cão”, da Paula Rego a saltar para dentro do “Nascimento de Vénus”, de Boticelli, bonecada de Keith Haring a fazer ginástica numa geometria de Mondrian, rasgões de Fontana na Gioconda, uma paisagem marítima de Turner invadida pelos Pássaros de Hitchcock, Musas Inquietantes de De Chirico a povoarem um campo de trigo de Van Gogh e outras coisas, tantas e esquisitas associações de visões impossíveis na vida real.

Mas quando a vi virada para a parede do fundo da sala a admirar “La Fornarina”, de Raffaello, e a alçar a perna sobre a moldura para entrar na obra, estando eu, do outro lado, como que hipnotizado pelo homem sentado de Bacon, que espetou com pregos na tela a figura - Homem ou Mulher? - que a si se adapta, e seguramente merece, lembrei-me mais uma vez da “Última Tela de Picasso” e, como se não houvesse ninguém no museu que  impedisse a minha compulsiva, mas não por isso  menos execrável acção, atirei-me à tela de Raffaello, já com Ela lá dentro, cortei-a com fúria à medida da tela dentro da outra tela do fumador de Bacon, e, entrando nela,  lá a espetei  arruinando com o meu acto insano duas obras de arte e, ao mesmo tempo, a existência dos que nelas habitam. Impunemente, espero, mas não sei por quanto tempo. O futuro o dirá.

 Um abraço.


Lisboa, 3 de Julho de 2014
 
Octávio Santos

(a) O meu Presidente, com P maiúscula, foi, e continuará a ser, o Dr. Luís Fontoura. Boa Viagem, e vemo-nos um dia destes se Deus quiser.