Neste torpor de um Agosto escaldante passado na cidade grande por
força da escassez de uma reforma curta que agradeço todos os dias a Sto.
António e a Nossa Senhora de Fátima pensando naqueles que só a poderão ter mais
magra se a tiverem mesmo esses felizes se comparados com os que se lançam todos
os dias ao Mediterrâneo na longínqua esperança de um futuro que só este ano
para mais de dois mil jaz no fundo engolido pelas ondas que para uns ondulam
para mergulhar e surfar para outros para desaparecer e para mim para admirar o
seu vai vem misterioso igual ao do fogo que nos consome o país e idêntico ao do
meu pensamento que se umas vezes se concentra no que quero a maior parte do
tempo divaga pelo universo daquilo que não
deveria existir e podia não existir não fosse a interessada indiferença
de quem lucra e a cobardia cómoda e justificada de quem padece mas tudo isto
são banalidades expressas por um que sabe que a verdade não existe mas que
sente a obrigação de a procurar lembrando a estafada advertência que nos cantavam
aos ouvidos que quem tem 20 anos e não é comunista é porque não tem coração mas
quem tem 40 e continua a sê-lo não tem
cabeça nem coração acrescento eu que ao contrário da maioria que nasce pirómano
e morre bombeiro nasci pirómano e morrerei pirómano porque as ondas do fogo
como as da água do mar dão motivos para que as do pensamento continuem a
fazer-me mal ao percorrerem o irreal da realidade que nos apresentam virtual ao
alcance dos sentidos e à qual me sinto ligado pelo fio invisível de um papagaio
de papel que lanço no ar e faz de antena que nos dias de hoje capta pouco de
bom mas mesmo assim me traz notícia do holandês que levou anos a fazer enxertos
para criar uma árvore que dá 40 frutos diferentes árvore que não serve de
exemplo a quem hoje continua a estender arame farpado e a construir muros para
separar amantes de tâmaras e fruta-pão de gulosos de peras e cerejas devotos da
cruz de encadeados pelo crescente barrigas cheias de barrigas vazias mimosos do
jardim da abundância de ressequidos do vento do deserto e o meu papagaio
continua a voar em todas as direcções e manda-me imagens do Vlora calhambeque
flutuante ma non troppo que de
Durazzo chegou a Bari em 1991 com mais de 20 mil fugitivos da miséria albanesa
que foi o início de todos os barcos da esperança que hoje despejam os que
sobrevivem em Lampedusa e em Kos para escaparem para Calais ou Subotica de onde
quase à vista do sonho britânico ou germânico se empilham em piras de
desesperados travados por túneis e muros às quais não se deita fogo porque não
se trata de pinheiros ou choupos lusitanos mas assistimos a camionistas também
lusitanos a contarem na televisão que tiraram 11 do meio da sua carga
impedindo-lhes a travessia e esquecendo que um dos heróis do seu país se
chamava Aristides Sousa Mendes mas isto não interessa a ninguém e do lixo que
se varria para debaixo do tapete para parecer às visitas que a casa estava
limpa passámos àquele que atirávamos ao mar porque lá no fundo deixava de se
ver e ao que queimávamos e continuamos a queimar nos aterros das lixeiras
clandestinas ou não porque o fumo vai para o ar para agora fabricarmos tudo na
China com as consequências de que
vimos uma amostra agora que Hiroshima
fez 70 anos confundindo as imagens de ambos os desastres mas este foi muito
longe da nossa casa e o outro foi longe no tempo continuando a empurrar tudo com a barriga cheia em nome do projecto
da “freenança” que nos há-de engolir a todos mesmo aqueles que a inventaram e
no-la estão a impingir como boa e inevitável todos na primeira fila a assistir
a diversões circenses de faz de conta como milionárias transferências e por
enquanto “só” 17 candidaturas tudo inventado pelos mesmos para distrair veraneantes
ao sol do Allgarve que não querem perceber que para além das mesas cheias dos
restaurantes do lado de cá do lado de lá do seu mar quentinho se estão a
preparar novos Hiroshimas e Tiangins que só cá não chegarão com a força com que estão
a avassalar outras praias porque os muito desesperados sabem que não é de
outros desesperados como eles embora menos
que podem esperar salvação.
Ao reler o texto
acima, e não tendo eu próprio entendido grande coisa, senti-me como Linus van
Pelt sem o seu cobertor azul, e então deixo-vos para distribuírem como bem
entenderem uma meia centena de vírgulas, o que pode ser até um bom exercício tipo Sudoku para praticarem na praia à sombra do chapéu de sol, com os meus melhores e mais sinceros desejos de boas férias:
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Alguém definiu a loucura como fazer sempre a mesma coisa esperando
resultados diferentes. A propósito de tudo isto e dos meus sonhos, do último
recordo apenas de ter visto vagamente um homem rico e um homem pobre diante um
do outro, ambos com um ar ameaçador e cada um com uma faca na mão; reparando
melhor seguravam-na do lado da lâmina e das mãos escorria sangue. Estúpido
sonho, como todos os sonhos!
Abraço
Lisboa, 20 de Agosto de 2015
Octávio Santos