Não tendo hoje nada para vos dizer, aproveito para vos propor o que escrevi a semana passada sobre assuntos sérios, e que acabei por não vos transmitir pelo e-mail do costume para não os misturar com anedotas. É que persiste um conflito entre o autor dos e-mails e o destas crónicas, não tendo ainda ambos chegado a um acordo sobre a linha de fronteira que separa a galhofa para desmontar o trágico, da seriedade para glorificar o inconcebível, sendo os verbos sublinhados intercambiáveis, ou seja, de qualquer maneira não se percebe o que digo.
1 - Tony Carreira foi agraciado pelo governo
francês com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, como antes
dele Amália, Bob Dylan, Groucho Marx, Umberto Eco, Sean Connery, Václav Havel,
Paolo Portoghesi e Dustin Hoffman, entre tantos, e até aqui tudo bem, Cavaco Silva também
condecorou o alfaiate da Mulher e eu ainda devo ter numa gaveta uma medalha de
reconhecimento por apego ao trabalho, da República Popular da Bulgária.
Se não sabem ficam a saber que considero o cantor como um produto menor da música ligeira portuguesa, mas isso são coisas minhas e uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa (Pombo Branco dixit). Tendo o artista mostrado vontade de vir a receber a sua prestigiosa condecoração na Residência de Sua Excelência o Embaixador de Portugal em Paris, recebeu do mesmo uma não resposta que é o mesmo que dizer que “levou com a porta na cara”. Para os mais distraídos lembro que os Embaixadores são os representantes pessoais do Chefe de Estado na capital dos países que aceitam recebê-los para exercerem essas funções, e que a casa onde vivem, paga por todos nós, é, não só a sua Residência como, e assim me ensinaram todos, ou quase todos, os Embaixadores que tive o privilégio de servir, a casa de todos os portugueses residentes, ou de passagem, nesse país. Assim, e para não me alongar, o Senhor Embaixador comportou-se mal ao não abrir larga a porta da “sua” casa e os seus próprios braços ao, por mim e atrevo-me a adivinhar, por ele próprio, mal amado artista. Poderá o Senhor Embaixador encontrar nos meandros da Lei, ou nos manuais da diplomacia, razões muito válidas para a atitude que tomou em nome dos seus gostos pessoais, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros emitir uma nota pouco convincente desculpando o seu agente diplomático, mas o Embaixador Moraes Cabral deveria ter-se lembrado que não foi por respeitar as Leis e directivas vigentes que hoje todos, e sublinho todos, se inclinam perante a grandeza de Aristides Sousa Mendes. Só uma coisa concedo a Sua Excelência: como representante pessoal de Cavaco Silva, seguiu-lhe o exemplo dado em relação a José Saramago. Que não é Tony Carreira. Espero agora que o novo Presidente da República, que já anunciara que uma das suas primeiras acções será de reconhecimento a Cristiano Ronaldo, siga o exemplo gaulês e decore o peito de Marco Paulo, a festejar 50 anos de carreira, com, pelo menos, a Ordem do Infante. Cantava Rui Veloso, que não é Tony nem Marco, na sua Valsinha das Medalhas, “quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos, que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos”, isto antes de pôr o seu à disposição no 10 de Junho.
Se não sabem ficam a saber que considero o cantor como um produto menor da música ligeira portuguesa, mas isso são coisas minhas e uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa (Pombo Branco dixit). Tendo o artista mostrado vontade de vir a receber a sua prestigiosa condecoração na Residência de Sua Excelência o Embaixador de Portugal em Paris, recebeu do mesmo uma não resposta que é o mesmo que dizer que “levou com a porta na cara”. Para os mais distraídos lembro que os Embaixadores são os representantes pessoais do Chefe de Estado na capital dos países que aceitam recebê-los para exercerem essas funções, e que a casa onde vivem, paga por todos nós, é, não só a sua Residência como, e assim me ensinaram todos, ou quase todos, os Embaixadores que tive o privilégio de servir, a casa de todos os portugueses residentes, ou de passagem, nesse país. Assim, e para não me alongar, o Senhor Embaixador comportou-se mal ao não abrir larga a porta da “sua” casa e os seus próprios braços ao, por mim e atrevo-me a adivinhar, por ele próprio, mal amado artista. Poderá o Senhor Embaixador encontrar nos meandros da Lei, ou nos manuais da diplomacia, razões muito válidas para a atitude que tomou em nome dos seus gostos pessoais, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros emitir uma nota pouco convincente desculpando o seu agente diplomático, mas o Embaixador Moraes Cabral deveria ter-se lembrado que não foi por respeitar as Leis e directivas vigentes que hoje todos, e sublinho todos, se inclinam perante a grandeza de Aristides Sousa Mendes. Só uma coisa concedo a Sua Excelência: como representante pessoal de Cavaco Silva, seguiu-lhe o exemplo dado em relação a José Saramago. Que não é Tony Carreira. Espero agora que o novo Presidente da República, que já anunciara que uma das suas primeiras acções será de reconhecimento a Cristiano Ronaldo, siga o exemplo gaulês e decore o peito de Marco Paulo, a festejar 50 anos de carreira, com, pelo menos, a Ordem do Infante. Cantava Rui Veloso, que não é Tony nem Marco, na sua Valsinha das Medalhas, “quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos, que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos”, isto antes de pôr o seu à disposição no 10 de Junho.
2 - A casa de Manuel
de Oliveira foi vendida à Fundação Sindika Dokolo, do nome do Marido da Senhora
Dona Isabel dos Santos, por 1,58 Milhões de euros. Não tenho nada contra, mas faz-me confusão que a Câmara Municipal do
Porto não tenha encontrado esta verba para que os portuenses ficassem com a
casa de um dos maiores filhos da Cidade Invicta, quando dispôs de 9 Milhões
desses mesmos euros para comprar o Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro, que no
dizer de Paulo Morais valia apenas 4, para uma estação do Metro do Porto que
nunca foi construída. E uma outra coisa me faz espécie sabendo-se, mais ou
menos, as condições em que vivem as populações de Angola e do Congo: como é que
se “ganha” tanta massa? Garantiram-me as
minhas fontes que a Fundação, que já anunciou a intenção de instalar a sua sede
mundial no Porto, iria lançar uma OPA sobre Serralves, e que o Presidente da
Guiné Equatorial está a pensar adquirir os terrenos da Feira Popular, em
Lisboa, para construir a “Cidade da
Democracia Lusófona”. Vamos ficar atentos.
3 – Não gostei mesmo
nada que o Alberto João Jardim fosse o único a não honrar, ou a não ter
percebido que não honrou, a memória de Almeida Santos, ao afirmar que ele tinha
sido o grande impulsionador da Zona Franca da Madeira. É que ele há coisas que
o respeito pelos mortos não consente de lembrar na triste ocasião do trespasse. E digo isto
porque vi com os meus olhos a ZFM, também conhecida por CINM - Zona
Internacional de Negócios da Madeira -
que, gerida pela SDM, Sociedade de Desenvolvimento da Madeira, tinha
como objectivo promover o investimento estrangeiro através de benefícios
fiscais e aduaneiros e, como sectores de actividade, um parque industrial com
infra-estruturas apropriadas à produção
industrial de bens, um registo internacional de navios - MAR – com especiais
benefícios para os armadores registados, e os serviços internacionais,
incluindo trading, consultoria ou
“qualquer serviço de âmbito
internacional”. E o que vi foram 5.883
empresas, a maioria italianas e reduzidas a caixas de correio, 82% delas sem
qualquer trabalhador, 230 navios a desfraldar bandeira madeirense de favor por
esses mares fora, e o PIB da RAM a arvorar números falsos de uma saúde doente.
O que não vi, porque alguém achou melhor que as câmaras de televisão italianas
da RAI 2 não fossem lá meter o nariz e
as objectivas, foi o parque industrial do Caniço porque só lá havia 4 ou 5
fabriquetas, tendo-me alguém dito off
record que uma delas era chinesa e fabricava à máquina “bordados da
Madeira”, coisa que não acreditei só podendo tratar-se de uma provocação de
qualquer cubano inimigo do arquipélago. Por tudo isto a ZFM era, ou foi, um offshore
nunca reconhecido pela OCDE. Vir agora o Jardim invocar os méritos de Almeida
Santos pelo impulso que deu a esta realidade pareceu-me, não só descabido, como
ofensivo para a memória do ilustre e saudoso político. É como se alguém se
atrevesse a vir perguntar o porquê do velório na Basílica da Estrela, sem
qualquer cerimónia religiosa, a pedido do extinto, quando há palácios em Lisboa,
com digníssimos templos, mais apropriados à funesta circunstância.
4 – O Tribunal
Constitucional veio-nos dizer, para gáudio dos ex-PAF, que não é infalível, e que nem sempre a sua justiça é salomónica. O
princípio da confiança, que agora invocou para devolver direitos de mordomia
àqueles (alguns) a quem demos o poder, não serviu para os cortes de salários e
pensões. Como, em princípio, todos perdemos a confiança, sobretudo depois dos
roubos dos bancos – BPN, BPP, BES, BANIF e senhor que se segue (tenham
confiança) -, devidamente avalisados pelo Banco de Portugal, resta-nos o
desespero diante de mais esta bóia que nos é negada em nome do nada que se
instalou mesmo debaixo dos mais impermeáveis mantos. Pior que tudo isto foi a
divulgação da lista do famigerado “grupo dos 30”, com a sua execranda
legenda, que só pode ter vindo de partidos desta vez impolutos, porque dela
ausentes, ainda por cima com a baixa e
vil intenção de atingir apenas um dos visados, o que transforma o acto numa
verdadeira matança de inocentes em Belém. Ainda por cima inútil porque a visada
já se tinha “suicidado” ao demitir-se, durante a desastrosa campanha, das altas
funções a que aspirava, mesmo antes de
lá ter chegado, para desespero de Coelho, Vera, Grilo, Soares, Alegre e outros que
embarcaram numa nau que deveria desembarcar em Belém, e não naufragar no Tejo por inépcia da timoneira.
5 – Caiu em cima da
Cimeira de Davos a notícia que 1% da população mundial tem mais de seu que os
restantes 99% (1/100 > 99/100), e que 62
desses ultramegamultimilionários têm o mesmo que metade do resto dessa mesma
população, {(total y - 62) : 2 = 62}. Cá por casa
soubemos que 2 milhões de ordenados mínimos nacionais teriam de amealhar todos
os seus rendimentos durante três meses para chegarem aos calcanhares dourados
do Senhor Américo Amorim (2.000.ooo x 3 = 1). Tenho a certeza que vai sair da cimeira, ainda
por cima com a participação de Barroso e Moedas, qualquer esboço de projecto de
intenção para uma actuação visando a solução. Se assim não for, ou eu estou
lúcido varrido, ou este nosso planeta começou a rodar ao contrário e já não há
nada nem ninguém que o segure para que volte a uma normalidade que,
afinal, nunca teve. Até quando?
Abraço.
Lisboa, 28 de
Janeiro de 2016
Octávio Santos