Uma dúvida não tenho, e penso que ninguém terá: Portugal está a ser bem governado e no caminho certo. Se assim não fosse não estaria agora um grupo de 70 antipatriotas invejosos, tão diferentes entre eles, a envidar todos os esforços para desacreditar a acção do governo e dar a saber lá fora que nem tudo são rosas. Lembra o Henrique Galvão a desviar o Santa Maria. Que depois voltou. Todos voltam. Lembra-me, como se fosse hoje, o Dr. Salazar no cais de Alcântara a debitar a frase da vitória: - Portugueses, a Santa Maria está de novo entre nós! Como a capa da Visão desta semana: Porque ri Relvas? Porque voltou. Todos voltam. Só estes 70 não se vão embora, destilar o veneno pessimista das suas calúnias nas margens do Quanza ou do Orinoco. De Leite a Louçã venha o Coelho e escolha. Aliás já escolheu, com o apoio musculado de Belém: todos culpados se o país não for para a frente como programado – agora com o Relvas novamente ao leme do Partido – porque estas coisas não se dizem para mercado ouvir. Já o que o Ministro da Defesa disse ao General Garcia Leandro, confessando que não percebendo nada de defesa tinha mais capacidade para fazer reformas e cortes, revela competência, sentido de Estado e patriotismo. Assim, sim!
Já na semana passada me tinha referido ao mal barbeado Paulo
Rangel que achava que o PS não devia andar por aí a badalar o seu desacordo. A
Bem da Nação. Como o Dr. Mário Soares não deveria ter escrito o “Portugal
amordaçado”. Tenho a sensação que os relógios em Portugal não andam, mas como
Deus é português e os relógios parados dão horas certas duas vezes por dia, lá
vamos escapando. Quem não está de acordo, agora que Caxias e o Tarrafal são só praias,
mude-se! Ele há tantos países para onde emigrar, verão que vão ter sucesso e a
televisão aberta para o documentar diante do olhar basbaque daqueles que não
tiveram ainda a coragem de dar o grande passo. É que depois volta-se, muitas
vezes a rir; ou depois do 25 de Abril para ocupar as cadeiras dos que saíram,
ou porque o balbuciar pateta da Grândola tenha caído no esquecimento, ou porque
já se amealharam uns pobres cobres em francos suíços, em euro/marcos ou euro/francos
para fazer a casa na terra, todos voltam. Porque ri Relvas? Porque voltou.
Porque é que os jovens investigadores da saúde se mostram risonhos, via skipe, de Londres, nos Prós e Contras? Porque
partiram. Partir ou ficar, eis a questão.
Até o Tordo do “Vává” – nada de depreciativo, mas era aí que o
encontrávamos no tempo da Tourada -, teve de pegar na guitarra e ir até ao Recife.
Com carta do Filho – todos os Filhos escrevem coisas exageradas quando falam
dos Pais – ou sem carta do Filho, com polémicas estéreis e invejosas (até o
Henrique Monteiro, um dos 70, se
confessa invejoso no prefácio dos meus Hieróglifos), ou na banalidade de mais um
que se sentiu prisioneiro num país bloqueado pelos cadeados da Troyka/EMEL que
os agentes da ordem nacional distribuem alegremente com a consciência do dever
cumprido, o certo é que uma figura da cultura deste país bateu com a porta. Um
país sem cultura não tem futuro. Estarão à espera 20 ou 30 anos que ele volte
encaixotado para que, em abaixo assinado, as forças vivas da Nação lhe
proponham o Panteão? O último proposto para tal honra póstuma teve de emigrar
para os Estados Unidos, para o Canadá e para o México quando os joelhos fraquejaram.
Para além da falta de cultura temos também falta de memória? Ou será este
Portugal umas eternas Obras de Santa Engrácia que, acabadas após séculos de
indecisões e esperas, são objecto de discussão para decidir quem entra e quem
não entra?
Eu também parti. Tinha 27 anos, uma Família, dois Filhos, e a
minha partida que, por eu não ser ninguém, passou despercebida, teve dores e
resultados cuja dimensão e intensidade só são conhecidos por um número tão
restrito de pessoas que sobra um dedo de uma mão para os contar. Mas que
importam estes pormenores àqueles que fazem partir as pessoas? E também voltei. Todos voltam. E, se a
partida da partida foi, no meu caso,
aparentemente ganha, que dizer da chegada? Porque chegar a um lugar que chegou ao estado
a que chegou, tira a alegria de chegar a qualquer um. Também porque nunca se
chega definitivamente a lado nenhum. Não se chega, está-se. Em Angola está-se,
dizia um cartaz de propaganda no tempo da outra Senhora. Em Angola volta a
estar-se para os que, partindo, escolheram o país da Senhora Dona Isabel. Deus
sabe se para voltarem como da outra vez, agora com a “ajuda” das taxas
aduaneiras.
No êxodo bíblico que Moisés guiou, com milagres à mistura, para
fazer chegar o seu povo à Terra Prometida, para, uma vez nela instalados deixarem
matar um que dizia a Verdade, para
séculos depois voltarem a partir e pagarem na pele o seu “pecado” por esse
mundo fora, e voltarem a voltar depois de quase banidos da face da Terra, e
chegarem a casa para descobrirem que não era só deles, e que os novos
inquilinos não falavam a mesma língua nem rezavam ao mesmo Deus, e, ou tu ou
eu, vamos mas é discutir isso com uma linguagem que cheira a pólvora e sangue
dentro das fronteiras, e a dinheiro nos areópagos internacionais, onde tanta
coisa já foi decidida para não ser cumprida, como é uso entre as pessoas de bem
que os frequentam. E que sabem muito bem o que fazem.
Não sei se serão também 70 os componentes do coro que, na ópera
“Nabucco”, de Verdi, cantam a ária “Va, Pensiero”, conhecida como “Coro dos
Escravos”, mas estou seguro que mais de 70 ou mesmo 700 milhões de pessoas já
se emocionaram a ouvi-lo. Escravo era o povo hebreu sob o jugo de Babilónia,
cujo implacável Rei Nabucodonosor saqueara o Templo de Jerusalém antes de os levar
feitos escravos para as margens do Eufrates; e é nestas margens que os hebreus
acorrentados cantam para celebrar a Pátria perdida. Quando Guiseppe Verdi
escreveu a partitura de “Nabucco”, todo o norte da Península Itálica estava sob
o domínio do Império Austro-húngaro e o desejo de liberdade do povo lombardo,
veneziano e piemontês, é exprimido pelo compositor na ária que passou, desde a
primeira vez que foi cantada na Scala de Milão em 1842, a ser o seu hino de
liberdade, tanto que começou a aparecer escrito nas paredes de Milão, Turim,
Verona, Pádua e Veneza, “Viva Verdi”, que mais não era que um disfarçado “Viva
Vittorio Emanuele Re d’Italia”, que no
dia do seu funeral, em Milão, o povo entoou espontaneamente o coro, e que,
ainda hoje, quando se fala em mudar o Hino de Mamelli, venha sempre à baila o
“Va, pensiero”. Cada povo tem a sua
ânsia de liberdade e a sua maneira de a exprimir.
Hoje, em Portugal, temos a liberdade de partir ou ficar,
consoante o partido ou a casta a que pertences, o apelido que te calhou em rifa
ou obtiveste por aliança, o grupo mais ou menos secreto em que estás filiado,
ou o grau de importância dos segredos que conheces dos palácios, de todos os
palácios, daqueles do governo aos da finança. Na Segunda-feira passada o
programa “Prós e Contras” versou o tema “Ficar ou Partir?”, da sua nova sede na
Fundação Champalimaud, e eu pergunto-me, ingénuo, se esta nova sede é a
apropriada para se poder ter opiniões em total liberdade sem medo de perder o
emprego, e falo daqueles que ainda têm a felicidade de o terem. Foi, digamos,
um Prós e Contras à medida do medo generalizado. Recordo só o fenómeno de
alucinação colectiva que levou quase todos a considerarem “A Gaiola Dourada”
como um grande filme, chegando a falar-se de uma nomeação ao Óscar – os mesmos
que querem candidatar o Carnaval de Torres Vedras a Património Imaterial da
Humanidade -, quando, sem falar nas perigosas mentiras que veicula
(propaganda?), é, na minha opinião, um filmezeco da treta.
Como todos sabem sou incapaz de fazer o relato de quanto vi e
ouvi de uma forma sistemática e ordenada, recorrendo por isso a alguns flashes que chamaram a minha atenção, e
que passo a repetir sem ordem ou nexo entre eles, jurando não inventar nada
como é pecha minha; digamos, um puzzle para os leitores comporem à sua vontade,
já que as peças são de fácil encaixe e no fim bate sempre tudo certo. Como
dizia António Gedeão: Vê moinhos, são moinhos, vê gigantes, são gigantes!
- Havia mais Prós que Contras, e do lado dos Contras havia,
ainda assim, uns pós de Prós;
- Que os Prós, cujas contas lhes devem sorrir neste momento (em
tempo de crise há sempre quem tire as castanhas do fogo), eram, desculpem a
leviandade, todos feios, mal amanhados, arrogantes e, o pior, detentores da
verdade;
- Que as PPP’s, a dívida pública, o BPN e as sinecuras, favores
e mordomias dadas de mão beijada a banqueiros e golden boys, não eram
responsáveis pela situação e não eram para ali chamadas, segundo as contas dos
Prós;
- Que, segundo os milagrosos pós dos Prós, nunca como hoje houve tantas oportunidades em Portugal, e que temos é que encontrar soluções e dar um pontapé na crise (um ou mais, lembrando-me do CR7 contra a Suécia);
- Que, segundo os milagrosos pós dos Prós, nunca como hoje houve tantas oportunidades em Portugal, e que temos é que encontrar soluções e dar um pontapé na crise (um ou mais, lembrando-me do CR7 contra a Suécia);
- Que Portugal é um país em que se desperdiçam oportunidades. Um
dos feios (porcos assim assim, nunca maus), disse que quando se fizeram os
descobrimentos se gastaram os proveitos a fazer a Torre de Belém e os
Jerónimos. Tinham os leitores consciência de pertencer a um povo perdulário,
pergunto eu atónito?
- Que há dois países em Portugal, e o que lhes interessa é
aquele que produz e cria emprego, citando o Engº. Belmiro de Azevedo como
exemplo a seguir, e que os salários que hoje se pagam em Portugal são aqueles
possíveis, e são um dos atractivos para o investimento, mesmo se insuficientes
para dar uma vida digna a quem trabalha no outro país que não lhes interessa;
- Que em Portugal não há respeito pelas instituições porque
estas não se dão ao respeito, isto para dar valor à tese que o Estado está a
mais, ou seja, a estorvar a “freenança”;
- A única, toda Contra na mesa – Raquel Varela, investigadora e formadora
-, sem contas a defender nem pós de perlimpimpim a usar, que teve de chamar mal
educado a um dos “brilhantes” Prós que lhe perguntou quantas pessoas ela
empregava (um cavalheiro!), lá ia dizendo que:
- As pessoas estão
fartas;
- Há crianças gordinhas
com fome calórica;
- As únicas coisas
que unem os portugueses são o desemprego e o desespero;
- Os jovens saem
porque não têm futuro;
- A política de terra
queimada da Troyka, aceite e apoiada por quem nos governa, usou bombas
inteligentes num bombardeamento
humanitário. Com efeitos colaterais, isto é, nós.
Um dos jovens Contra na sala, desempregado como quase 30% dos
seus coetâneos, disse que havia dois países em Portugal, concordando com os
Prós. Basta descer a Avenida da Liberdade de dia e de noite. De dia as grandes
firmas a resplandecer para os seus endinheirados clientes. De noite a miséria a
dormir na soleira das suas portas e montras. Disse ainda que, a emigração é uma
coisa boa se não for forçada. Como válvula de escape económico e social, é uma violência
que destrói uma geração, ajudando a criar racismo e xenofobia nos países
receptores, como estamos a assistir todos os dias.
Em Portugal estão a ficar aqueles Contras que não contam nem têm
conta no banco, desempregados ou com salários de miséria, e aqueles Prós
premiados com uns pós de magnanimidade, traduzidos em salários e prémios de
nível europeu; para os amigos e os amigos dos amigos, vai sempre chegando.
Cheguei à conclusão, se bem compreendi tudo, que há sempre uns
pós para compensar quem nunca é Contra, mesmo que se trate da omissão de regulamentação
que competia ao Banco de Portugal; Vitor Constâncio é o exemplo. E sempre umas
contas para os Prós que ajudam a enterrar os Contras com declarações tipo “- Ai
aguenta, aguenta!”, da qual o banqueiro Fernando Ulrich tem direitos de autor.
Permitam-me dois anúncios:
Ricardo Araújo Pereira vai ter, a partir de Abril, um tempo de 5
minutos após o telejornal das 20.00 horas da TVI, intitulado “Melhor que
falecer”, para dizer aquilo que os jornalistas não podem dizer (sic).
Daniel Oliveira dá uma conferência no El Corte Inglès, dia 14/3,
às 19.00 horas, intitulada “A morte lenta da democracia”.
Peço desculpa por terminar
plagiando uma admirável frase do teólogo, escritor e poeta José Tolentino
Mendonça, que encerra a crónica "Obrigado, Luís Miguel Cintra”, na sua
habitual rubrica semanal “que coisa são as nuvens”, publicada na revista do
Expresso de 8 de Março último.
“ Na política não há nada
mais fácil do que conseguir um milagre. Mas se me disserem que é política, eu
respondo que não é.”
Ajudem-me sff porque já não sei onde vivo e esqueci o caminho de casa. Deve ser da idade.
Octávio Santos
Sou toda pró este post, linha por linha. Como sempre, Lúcido e apesar de tudo Bem Disposto para acicatar mais e melhor as nossas consciências Serenas.
ResponderEliminarComo sempre cá estou a admirar o post semanal (não digo elogiar, não se usa) e comento, não para me ler, mas para o autor me ler. Parece que, neste momento da minha vida, a sua escrita tem o som dos violinos a tocar (penso que só existiu no filme) com o Titanic a afundar. Just kidding!
ResponderEliminartodos partimos em alguma altura da nossa vida. todos buscamos melhores condiçoes de vida. esquecemos sentimentos, principios ou mesmo ideais que outrora defendemos. esquecemos que as nossas escolhas de hoje influenciam a nossa vida amanha. a nossa e a dos outros. quando o amanha se torna hoje, percebemos que ao partir nao ganhamos tanto como pensamos, porque a factura aparece para pagar no fim do jantar. e agora com beneficios.
ResponderEliminar"...Também porque nunca se chega definitivamente a lado nenhum. Não se chega, está-se. ..."
ResponderEliminarNem mais, bem como os becos da vida são os grande motivadores para a nossa mudança. Por muito cobardes que sejamos quando chegamos a um beco sem saída somos forçados a bem ou a mal a mudar e procurar outra saída.
abraço.
O que hoje me motiva a comentar é que reli o texto do autor e valeu a pena, porque numa segunda leitura já não se lê, saboreia-se. É que a comida que agora como sabe-me a pouco, porque fui habituada a ter, possuir, muito mais do que tenho agora; sinto que estou a ser castigada por coisas que fiz (gastei muito) e principalmente não fiz. Não tenho nenhuma vontade de rir, mas neste momento passam coisas na SIC radical incrivelmente bem feitas pelos "não culpados do costume".
ResponderEliminarCompreendo bem esse sentimento. São os pós do que fizemos e as contas para os que ainda vão fazer.
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