Estava noutra, imaginem-me a escrever um conto de Natal, doce,
manso, com bons sentimentos, moral e tudo, quando me lembraram que tinha de
escrever qualquer coisa para o blogue e eu, de cabeça vazia, embora me
apetecesse gritar certas verdades, o que felizmente já os UHF tinham feito por
mim (por nós), com o seu manifesto “Vernáculo”.
Por sorte fica sempre qualquer coisa por dizer neste nosso amado país, onde me garantiram que o crioulo “equatoguineense” vai ser língua obrigatória para nos mantermos na CPLP, onde cada dia a salganhada é maior e se corre o risco de mandarmos para as salgadeiras de quem nem porcos come, meninas nossas, mas mazinhas, que merecem ser denunciadas pelos queixinhas do costume, e onde renasce o medo que eu pensava fosse mercadoria invendável há 40 anos, mas que está a ser recuperada do fundo dos armazéns onde esteve guardada em naftalina, e pensando no que escrevi na crónica de 23/11/2013, que inaugurou este blogue, citando Papas que nos deram dicas de conduta, a primeira, de João Paulo II, que, em 27 anos de pontificado se limitou a mudar o Mundo: “Não tenhais medo!”, e, a segunda, de Francisco, que em 6 meses já nos mudou a nós: “Tenham a coragem da esperança”, proponho, com a intenção de exorcizar o medo e de incutir esperança, esta Via Sacra, em 14 Passos da Cruz, como é do Livro:
1º Passo: Juízes condenam à castidade os maiores de 50 anos
Por sorte fica sempre qualquer coisa por dizer neste nosso amado país, onde me garantiram que o crioulo “equatoguineense” vai ser língua obrigatória para nos mantermos na CPLP, onde cada dia a salganhada é maior e se corre o risco de mandarmos para as salgadeiras de quem nem porcos come, meninas nossas, mas mazinhas, que merecem ser denunciadas pelos queixinhas do costume, e onde renasce o medo que eu pensava fosse mercadoria invendável há 40 anos, mas que está a ser recuperada do fundo dos armazéns onde esteve guardada em naftalina, e pensando no que escrevi na crónica de 23/11/2013, que inaugurou este blogue, citando Papas que nos deram dicas de conduta, a primeira, de João Paulo II, que, em 27 anos de pontificado se limitou a mudar o Mundo: “Não tenhais medo!”, e, a segunda, de Francisco, que em 6 meses já nos mudou a nós: “Tenham a coragem da esperança”, proponho, com a intenção de exorcizar o medo e de incutir esperança, esta Via Sacra, em 14 Passos da Cruz, como é do Livro:
1º Passo: Juízes condenam à castidade os maiores de 50 anos
Rezo para que os jornalistas não tenham
medo de perguntar que nomes merecem os juízes que, para agradarem a um hospital
PPP (para público pagar), que assim não vai ter de indemnizar uma Senhora por
um erro cirúrgico crasso (ia escrever crato), sentenciaram que o sexo depois
dos 50 é mais uma coisa acima das nossas possibilidades, e o que tu querias sei
eu, minha tarada de merda! E já agora, de não terem medo de dizer a quem
deveria administrar a Justiça que, uma sentença, justa ou injusta, vinte anos
depois, é um roubo declarado à dignidade e à vida de qualquer cidadão. Mas
tenham a coragem da esperança lembrando Dona María del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa
Victoria Eugenia Fernanda Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa
Fausta Rita Castor Dorotea Santa Esperanza Fitz-James Stuart y de Silva Falcó y Gurtubay,Duquesa de Alba de Tormes, a qual, com 88 anos, ainda aí está para as curvas, e Don Alfonso que o diga! 18.ª e actual
2º Passo: O Primeiro Ministro carrega a Cruz
2º Passo: O Primeiro Ministro carrega a Cruz
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de ser despedidos e
perguntem ao Primeiro Ministro como é que ele consegue carregar sozinho a sua
Cruz, com o contrapeso do Crato, do Machete e da Luis, só para nomear aqueles
com mais peso de responsabilidade no descalabro do país a que todos assistimos,
num momento em que até as portas se lhe fecham na cara. A coragem da esperança
não vo-la posso dar, já que num futuro mais ou menos próximo, em vez da cruz,
teremos todos de carregar o Costa às nossas costas. Venha o diabo e escolha!
3º Passo: O cronista cai pela primeira vez
3º Passo: O cronista cai pela primeira vez
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de não arranjarem
emprego no Estado para os seus Filhos e perguntem ao Ministro da Solidariedade,
Trabalho e Segurança Social porque é que a mim, que trabalhei até ao dia em que
completei 70 anos, data limite para trabalhar no Estado, naturalmente porque se
começa a perder faculdades mentais - ver os casos do PR e do MNE -, me foi
atribuída pelo Instituto de Segurança Social, IP, uma “Pensão por Velhice”,
designação indigna, vexatória e imprópria de um país que se diz civilizado. A coragem
da esperança resta aquela de emigrar para o Brasil, onde um velho não é um
velho mas apenas uma pessoa.
4º Passo: Costa encontra a Mãe
4º Passo: Costa encontra a Mãe
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de nunca mais serem
convidados para cobrir as Marchas de Lisboa ou, num possível futuro, eventos
mais importantes, e perguntem ao presumível futuro Primeiro Ministro se o
encontro com a sua Mãe na noite da vitória teve alguma influência na recente
publicação da biografia da excelsa Senhora, e se, pelo facto de ser sua Mãe
passará a ter o mesmo sucesso editorial da Mãe do CR7. A coragem da esperança
já a perdemos, pois que, tendo sido processada após o 25 de Abril por “ofensa
ao pudor e incitamento ao crime” pelo seu programa “Aborto não é crime”, já é
tarde para se arrepender seja do que for.
5º Passo: Jonas e Talisca ajudam Jesus
5º Passo: Jonas e Talisca ajudam Jesus
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de nunca mais porem os
pés no Estádio da Luz, e perguntem ao Luis Filipe Vieira se foram Jonas e
Talisca, cada um com o seu hat-trick,
a ajudar Jesus a manter-se, se bem que só por um ponto, à cabeça do Campeonato.
A coragem da esperança, mesmo na Champions
League, sendo eu do glorioso, é inesgotável.
6º Passo: O Banco de Portugal limpa (enquanto pode) a imagem do BES
6º Passo: O Banco de Portugal limpa (enquanto pode) a imagem do BES
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de vinganças e
retaliações do DDT (Dono Disto Tudo) e suas 5 Famílias, nem do ex-factotum do Jardim Gonçalves, Carlos
Costa, e lhes perguntem, ultrapassando a Comissão de Inquérito em S. Bento, que
todos sabemos estar lá para encobrir e não para revelar, como é que tudo isto foi
possível num Estado de Direito, membro da UE. A coragem da esperança é a de que
nasça uma nova geração de portugueses destemidos e incorruptíveis para pôr fim
a isto e a muito mais.
7º Passo: O cronista cai pela segunda vez
7º Passo: O cronista cai pela segunda vez
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de serem banidos das
reportagens dos Jogos Olímpicos de 2016, e perguntem a quem manda no Brasil,
onde o cronista pensava que um velho era uma pessoa (ver 3º Passo), porque é
que o direito (não sei se uma obrigação é um direito) de voto passa a facultativo aos 70
anos. Porque já não contas? Aqui a coragem da esperança desvanece-se já que até o Novo Mundo se
revela antigo e retrógrado.
8º Passo: As Mulheres encontram-se na Via Dolorosa do Meco
8º Passo: As Mulheres encontram-se na Via Dolorosa do Meco
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de serem dados ao
ostracismo por um eventual possível futuro Presidente da República, nem
perseguidos pelas Polícias Marítima e Judiciária, e perguntem, a um porque
razão as praxes (mesmo com 6 mortos) são assuntos internos da Universidades, e
aos outros se foi por incompetência, desleixo ou encomenda vinda do alto, que
não fizeram minimamente o seu dever. A coragem da esperança está naqueles
caloiros que tenham a coragem dos jovens de Hong-Kong, e digam não à
prepotência dos instalados.
9º Passo: O cronista cai pela terceira vez
9º Passo: O cronista cai pela terceira vez
Rezo para que os jornalistas não tenham medo que os poderosos
arranjem maneira de os obrigar a revelar a suas fontes, e comecem a perguntar
aos caídos, desempregados nos Centros de Emprego, condenados nas prisões,
doentes nos hospitais públicos, sedentos de justiça nos Tribunais, roubados à
porta do BPN, BPP e BES (por enquanto), escravizados em Espanha, Holanda e
Dinamarca, professores não colocados, ou colocados a 700 km de casa,
funcionários públicos hostilizados por crime de eficiência por "pavões" incompetentes mas intocáveis, enfermeiros a 3
euros à hora e a muitos outros mais, o porquê de tudo isto. A coragem da
esperança é morta à nascença pela inevitabilidade da obediência que um pequeno
país que não conta, deve à Nova Ordem da freenança,
tão cara a quem nos governa.
10º Passo: O Rei vai nu; Cavaco é despojado das suas vestes
10º Passo: O Rei vai nu; Cavaco é despojado das suas vestes
Rezo para que os jornalistas percam finalmente o temor reverencial
por quem está no trono, e perguntem cara a cara ao Presidente da República se a
venda com lucro das acções que detinha com a sua Família, nas vésperas da
derrocada do BPN, foi fruto de uma informação do seu correligionário e amigo
Oliveira e Costa, o que configura crime de inside
job, agravado pelo facto de ser o Primeiro Magistrado da Nação, ou se foi
algum passarinho que lho disse ao ouvido nos Jardins do Palácio de Belém. A
coragem da esperança só se manteria de pé se a vergonha na cara ainda existisse
neste malfadado país, onde em tempos existiam homens que, por delito de honra,
se apresentavam, com a sua Família, de corda ao pescoço junto dos ofendidos,
que neste caso somos todos nós. A imagem do Rei que vai nu só se apagaria com
um hara-kiri no Reino do Pastel de
Nata.
11º Passo: Portugal é amarrado a um memorando
11º Passo: Portugal é amarrado a um memorando
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de perder todas as
retribuições que recebem de jornais, televisões, revistas e rádios onde têm
assento, voz e imagem, muitas vezes como comentadores, sem pensar quem são os
donos desses meios de comunicação social, e façam um inquérito sério e
profundo, tipo Watergate, que explique as razões, os meandros, os
intervenientes e os segredos das obrigações assumidas com organismos de
duvidosa competência e comprovada dependência da finança internacional, leia-se
Goldman Sachs, que nos amarraram a todos, e nos diga os nomes dos responsáveis
– sem nos virem contar que a culpa foi nossa – pela fanática austeridade
imposta e consentida que se abateu sobre um país e um povo. A coragem da
esperança é, neste caso, idêntica à de alguém que perdeu um ente querido numa
catástrofe e quer saber como se passaram realmente as coisas, e, sobretudo, recuperar o
corpo.
12º Passo: Portugal morre e faz o testamento a banqueiros, petroleiros e a políticos seus lacaios
12º Passo: Portugal morre e faz o testamento a banqueiros, petroleiros e a políticos seus lacaios
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de cair na desgraça,
ameaçados de morte, ou coisa pior, e perguntem o que é que se passou com o
escândalo BPN, no qual interveio como criminoso primário a Liga dos Amigos de Boliqueime,
como guardião do sistema o Governo português que nos subtraiu 650 milhões de
euros para a benemérita e patriótica acção de salvamento, para pouco depois o
“oferecer” por 40 milhões (30 dinheiros!) ao Eng.º Mira Amaral por conta dos
seus intocáveis amigos angolanos, recebidos de braços abertos como investidores
que vêm ajudar a salvar a economia do país. Com as calças do meu pai também eu
sou um homem! A coragem da esperança cai por terra perante a subserviência dos
nossos governantes para com os nossos “salvadores”.
13º Passo: Portugal é descarregado como lixo pelas Agências de Rating
13º Passo: Portugal é descarregado como lixo pelas Agências de Rating
Rezo para que os jornalistas não tenham medo de serem considerados
provincianos ignorantes das leis que regem a ultraliberal finança
internacional, e dos agentes que mantêm em pé estas contas faz de conta, e perguntem
qual o trabalho que fazem tais agências - Moody’s, Fitch e a outra que decide se
“your standards are rich or poors” -,
em que parâmetros se baseiam, quem lhos fornece, se são autónomas e
independentes ou se recebem ordens, e de quem, como acontece com as
consultoras, para que servem e quem servem, se pensam que, protegidas nos seus
arranha-céus de vidro, somos todos AAAsnos,
BBBestas ou CCCamelos e que não sabemos o jogo que jogam. A coragem da esperança,
diante destes senhores, boia na água da sanita, que me perdoe o Papa Francisco,
à espera de quem mande puxar o autoclismo.
14º Passo: Portugal é sepultado
14º Passo: Portugal é sepultado
Rezo para que os jornalistas tenham medo, por si e pelas suas
Famílias, por não terem feito o seu dever para evitar que o seu próprio país
seja sepultado miseravelmente sob o peso de uma dívida com juros agiotas que
engordam os fortes, que, únicos interessados no dinheiro que nos emprestam, só
eles sobreviverão. A coragem da esperança é mais forte que nunca, porque quando
não se pode descer mais, ou se fica no fundo, ou se começa a erguer com a fúria
do desespero.
Ontem, o único político europeu que hoje faz um esforço para merecer ser comparado aos pais fundadores da Europa, o Primeiro Ministro italiano Matteo Renzi, 40 anos, ao bater mais uma vez o pé às exigências da Ângela, como ele lhe chama, disse: “ - O futuro é só o início!”.
Ontem, o único político europeu que hoje faz um esforço para merecer ser comparado aos pais fundadores da Europa, o Primeiro Ministro italiano Matteo Renzi, 40 anos, ao bater mais uma vez o pé às exigências da Ângela, como ele lhe chama, disse: “ - O futuro é só o início!”.
Abraço.
Lisboa, 30 de
Outubro de 2014
Octávio Santos
Octávio Santos
Sempre contundente e certeiro! O estilo é do melhor, razão porque continuo fiel leitora do sereno, agitado apesar de tudo e mobilizador de reflexão, sempre.
ResponderEliminarCara Azinheira,
EliminarMuito obrigado pelo constante estímulo. Temo que a serenidade esteja em fim de stock o que me retira poder de reflexão, e não a tendo não poderei transmiti-la aos outros. Falo a sério.
Beijo
Octávio
Espantoso de certeirice e a propos. Adorei a referência à muito icónica Duquesa de Alba, uma das minhas musas - embora o seu texto desperte, nas profundezas mais profundas de mim, ímpetos pasionarios e de Padeira de Aljubarrota e só me apeteça mesmo despachar para fora deste chão e à pazada uns quantos tipos que por aí circulam, coisa que a Senhora Duquesa certamente não aprovaria (e daí...)
ResponderEliminarNo mais, continuo a bater palmas. Obrigada por estas prosas saborosíssimas!
Flor
Cara Florinda,
EliminarObrigado pelas palmas (de gáudio). Desta vez deu-me para esta Via Sacra onde misturei alhos com bugalhos, letra e música dos UHF com juízes desajuizados, Senhora de nome quilométrico com ministros de cérebro milimétrico, biografia de Mãe às costas do Filho com azes da bola brasileiros (terror dos zagueiros), velho que conta os tostões da pensão com banqueiro que conta os milhões da evasão, votos e praxes obrigatórios de ambos os lados do Atlântico, caídos (não os do Vale de D. Francisco por la gracia de Dios) sem hipótese de se levantarem com reis nus que já não levantam nada, um país a sair do lixo e a enterrar-se na dívida, todos à espera de um funeral e das palmas (do martírio). “O futuro é só o início”.
Abraço
Octávio