-
Segunda-feira, 27 de Janeiro, comemoraram-se os 70 anos da Shoah;
-
Benito Mussolini, Il Duce (DUX), foi o primeiro governante europeu a aprovar e
aplicar leis raciais, no caso
específico, contra os judeus, em 1938. Hitler
limitou-se a imitá-lo e foi o que todos sabemos;
-
Segunda-feira, 27 de Janeiro, alguém entregou na Sinagoga, no Museu Hebraico e
na Embaixada de Israel, embalagens com cabeças de porco, e nas paredes da
Escola Hebraica foram pintadas cruzes suásticas. Tudo em Roma;
- Em
França, uma sondagem deu 23% de intenção de voto no partido da Senhora Le Pen,
à frente de “gaulistas” e socialistas;
- Na
Grécia, na Hungria, na Bélgica, na Escandinávia, partidos de extrema direita
começam a subir nas sondagens e, em alguns casos, a eleger deputados;
- Quem
decide das praxes em Portugal, toma, na hierarquia da Comissão das Praxes -
COPA - o nome de DUX;
- As
praxes, em Portugal, são um assunto privado das Universidades e dos
Politécnicos, sobretudo dos estudantes, obedecendo a regras específicas
internas, ouvimos na televisão a pessoas sérias e responsáveis;
- O
Professor Marcelo disse à Judite que os caloiros aceitam as praxes para não
serem excluídos e fazerem parte de um grupo, e desviou outras perguntas da
Senhora. Ocorre-me abusivamente a
palavra rebanho;
- O
Professor Marcelo foi excluído do seu grupo (rebanho?) por um animal de
coelheira;
- Praxes
sem lei num país sem lei, ou com leis específicas para cada grupo, consoante o
berço, o partido ou a conta no banco.
Por
questões de sanidade mental - o geriatra disse-me que não devo pensar muito -
voltemos ao assunto que a imagem e o título dão a entender.
Dia 24
fui ao Casal da Mira, ali entre Famões e a Brandoa, fazer umas fotografias numa garagem cheia de
automóveis antigos daqueles que se alugam para os casamentos de Sto.
António; tiraram para a rua uma Arrastadeira
para fazer espaço e avançaram com o “meu” carro; não é que me calhou um Mercedes 190 SL,
modelo de que fui feliz proprietário de 1969, ano em que o comprei ao cineasta
Filipe De Solms por 48 contos, a 1972, e ainda por cima com um 23 no meio da
matrícula. Coincidência que me levou a falar-vos dos meus automóveis, e logo,
também por coincidência, aquele da imagem, um Wolseley Hornet, que alguém
associou ao Jailhouse Rock, não era meu. Como não eram meus muitos dos que
guiei, ou porque estavam à mão ou pelo prazer que tinha em experimentar carros
novos.
Meus,
realmente meus, não foram assim tantos, pelo que me é fácil fazer a lista,
fornecer pormenores e linkar imagens,
arriscando-me que o assunto não interesse ninguém. Mas tal como o “Moínho de
Vento, 23” é só um testamento. Cheio de preguiça (de funcionário público ainda
por cima reformado) não me apetece dar uma ordem cronológica, pelo que os
semeio à toa segundo as minhas lembranças.
- Um Fiat 500 F
de 1969, creme, em Roma, durante 10 anos e mais de 50 mil km, que julgo esteja
no Porto. Saudades.
- Um Peugeot 304,
verde, com o qual viajei de Lisboa para Sófia (O Vestido Azul de Clermont
Ferrand), e acabou num grave acidente na Grécia, na estrada entre Larissa e
Linavates. A esquecer.
- Um Jiguli 124,
vermelha, carrinha soviética fabricada sob licença Fiat em Togliattigrad. Em
Sófia.
- Um Citroen 2 CV,
creme, que comprei a um oficial do COPCOM, no ano em Lisboa entre Paris e
Sófia. Lembro-me de irmos em 9 até à praia; 5 eram pequenos e quase não
ocupavam espaço. Inconsciência.
- Um Mercedes 250 SE,
creme, comprado em Atenas por 1.500 dólares depois do acidente com o Peugeot
304, que me deixou apeado. Tinha um pneu Mabor e balançava aleatoriamente nas
curvas.
- Um Volkswagen Golf I, preto, primeiro pequeno diesel do mercado, que fui de Sófia buscar a
Wolfsbourg, e tive em Lisboa muitos anos para as férias.
- Um Mercedes 200,
preto, que comprei ao Embaixador da Holanda em Sófia, levei para Roma e foi-me
roubado num parque de estacionamento com guarda
na Base NATO de Bagnoli, perto de Nápoles. Neste momento já está dentro
de um contentor com destino à Albânia, disse-me o polícia a quem apresentei
queixa.
- Um Ford Fiesta,
verde, que comprei novo em Roma após o roubo do Mercedes 200, e trouxe para
Lisboa em 2002, conservando-o até que a Carla e o Octávio me deram o Golf IV,
preto, que é o carro que tenho agora. Também dei o Fiesta a um familiar. Dois
bons carros.
- Um Neckar Jagst Riviera 770, cinzento, coupé
derivado do Fiat 600, fabricado na Alemanha Democrática sob licença. Eu tinha
18 anos e adorava acelerar nas ruas com pouco tráfico de Lisboa. Era 1961.
- Um Fiat 128
- excelente carro -, vermelho, que comprei novo em Paris quando vendi o Mercedes 190 SL
a um emigrante português, porque não tinha dinheiro para as reparações e porque
só tinha 3 lugares e os miúdos estavam a crescer.
- Um NSU Prinz IV,
verde, com o qual o pai do Pedro Lamy, que mo vendeu, me ensinou a fazer
piões. Não chegava aos 130 mas
pintei-lhe o capot de preto baço para
evitar os reflexos do sol a alta velocidade. Idiota.
- Um Hillman Imp, break
de chasse castanho. Lembro-me de entrar e sair com ele, durante 3 anos, os
portões do Destacamento da Pontinha do Regimento de Engenharia 1. Muitas das
vezes de serviço e armado, só para ir dormir a casa, arriscando um merecido
cadastro que me teria vedado as portas da função pública.
- Um Fiat Pulmino 900, cor de abóbora, 9 lugares, que fui de Sófia buscar a Turim, e que
fez uma viagem de férias Sófia-Lisboa-Sófia, ou sejam 7.000 km. Numa garagem em
Sesimbra mandei-lhe construir um berço sob o chassis para alojar o pneu sobressalente que, de origem, tinha
lugar diante dos joelhos do passageiro da frente. Engenhocas.
- Um Nissan Patrol,
creme, que comprei ao Gabinete Militar da Embaixada Americana em Sófia, com
oferta em envelope lacrado, like is where is; ganhei-o com uma
oferta de 1600 dólares. Vendi-o ao Encarregado de Negócios do Equador pelo
mesmo preço.
- Um Mercedes 220 D,
cinzento, que fui de Sófia buscar a Estugarda, conservei 6 ou 7 anos, acabando
por o vender a um funcionário da Embaixada da Hungria. Lembro-me de o ter
encomendado sem estrela, porque os meninos socialistas adoravam colecioná-las.
Contradições.
- Um Triumph Mayflower,
preto, todo em ângulos quase sem qualquer curvaturas na carroçaria, que comprei
em Lisboa, antes da diáspora, com uns dinheiros que ganhei com um projecto de
arquitectura.
- Um Peugeot 504,
creme, que me foi oferecido pelo saudoso Embaixador Zózimo Justo da Silva
quando deixou Sófia como Conselheiro. Vendi-o a um estudante congolês da
Universidade Climent Ohridsky, chamado Barrabaz.
- Um Simca 1000,
cinzento, com o qual fiz a viagem de núpcias - três dias na Serra da Estrela -,
onde chegámos debaixo de um tremendo nevão. Já não havia jantar na Pousada,
tão tarde era, e comemos ovos mexidos com presunto. Penso que as Seichelles e
as Maldivas ainda não existiam.
Espero
não ter esquecido nenhum, e já não tenho coragem para fazer o elenco daqueles
que, não sendo meus, como o Wolseley Hornet da imagem, guiei por necessidade ou
prazer, incluindo os Caterpillar da tropa, os dumpers das obras, ou de uma
camioneta Hanomag F55 com que distribuía materiais de construção pelos
estaleiros. E carroças de mulas, em casa da minha Avó materna, nas faldas da
Serra de Montejunto. Menos mal, direis vós!
Abraço.
Herdade
das Valadas, 30 de Janeiro de 2014Octávio Santos
Este tema, em que o autor começou por dizer que era fútil, acabou (e eu pensei logo que seria assim) por tratar do essencial; assim vi que se escreveu sobre muita coisa que anda no ar e que até são futilidades aparentes e que se podia dizer que se fala e escreve sobre isto para fugir ao essencial, mas não é, isto porque o fútil é essencial. É essencial para quem dá importância ao fútil e é também essencial para quem quer manipular o essencial. Vi que o autor falou na existência de mensagens diferentes conforme o grupo a que se pertence, o dinheiro que se tem, e até o berço. A propósito de berço, há muito tempo que não via ninguém escrever esta palavra neste contexto, porque era coisa que eu julgava que já não existia. Afinal, gosto de saber que ainda existe e a mim sinceramente parece-me que é para o bem e para o mal. DFC
ResponderEliminarCara Deolinda,
EliminarO simples facto de ser reincidente nos seus comentários já é motivo suficiente para lhe estar grato. Perceber o que me esforço por dizer e onde quero chegar, intuir que para mim o fútil pode ser essencial “para o bem e para o mal”, incita-me a não parar. Permito-me lembrar-lhe que na futilidade do elenco dos meus automóveis contei um pedaço do meu percurso de vida, e que os acessórios são parte essencial da futilidade de um automóvel. Ou de uma vida.
Abraço
Octávio
As respostas que faz aos meus comentários são de molde a me parecer que estou a conversar com alguém a esta hora da noite. Os seus velhos automóveis são de alguém que soube e está a saber viver, seja com o pouco/muito que a vida oferece. As futilidades dos seus automóveis fazem-me recordar a importância que alguns desses veículos tiveram na minha vida, quer à porta de casa, quer de um ruído de acelerador à minha espera, quer junto a qualquer local ...DFC
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