Quando me sento para escrever, sem rumo nem ideias, faço-o com a certeza que qualquer coisa virá em meu auxílio. Tranquilo, porque invariavelmente assim sucede. Não me cansando da beleza da imagem do meu blogue, pergunto-me sempre qual o virtuosismo necessário para pintar retrato tão revelador do seu sujeito, quase nos dando a ouvir as notas que a artista, que se percebe estar toda dentro da sua música, extrai do seu violoncelo. Releio os textos anteriores e penso que daria tudo para conseguir, como acontece com os grandes escritores, transmitir aos leitores exactamente aquilo que lhes quero dizer. Em vão.
Dou de caras com uma frase do último
texto, a qual relata a visão de um anjo empoleirado num pinheiro manso no IPO,
o que, a uma semana de distância, não sei se foi vivida ou sonhada: “…pareceu-me
ver um anjo que me acenava recomendando; não te esqueças de tomar sempre as
decisões mais justas!” Tudo é possível. Já quando escrevi aquela visão
intitulada “ A Última Tela de Picasso”, que encerra o meu “Moínho de Vento,
23”, fiquei com a dúvida se o mesmo não me teria sido transmitido por um anjo,
ou se ao escrevê-lo não o teria feito para um anjo. Mas que importa a verdade -
só mentira…só mental.., dizia O’Neill - se são estas dúvidas, este lusco-fusco
que habito entre a realidade e a ficção, que vêm em meu socorro quando os
neurónios desesperam em busca de um objecto para a escrita?
Agarrando-me desesperadamente a estas
três pistas, pintura, escrita e anjos, atiro-me à odiada net, o que faço sempre relutantemente quando preciso de tapar os
buracos da minha cultura que mais parece um crochet daqueles com que a Joana
Vasconcelos veste barcos, sapos e lagartos, e navegando, não à bolina mas às
bolandas, descubro, através desta última palavra, o escritor Domingos Monteiro,
autor do romance “O Primeiro Crime de Simão Bolandas”, que também foi político
e jornalista, fundando o Partido da Renovação Democrática e o Diário Liberal, o
qual tinha uma ligação familiar com o também escritor e poeta D. João de
Castro, tendo casado com uma sua Neta. Deste, fui sabendo que, para além do
romance e da poesia, escreveu também teatro e livros para crianças, fez parte
na sua juventude, com Júlio e Raúl Brandão, Justino de Montalvão, Alberto de
Oliveira, Eduardo d’Artayett, Inácio de Pinho e Celso Hermínio, de um grupo
literário denominado “Nefelibatas” que teve a sua importância na época. Foi
ainda jornalista, já que escreveu durante 30 anos artigos de fundo para “O
Primeiro de Janeiro”, focando principalmente a história das grandes famílias
portuguesas, das quais a sua fazia justamente parte, tendo deixado um notável
acervo de notas sobre a genealogia da sua Família, as quais foram mais tarde
aproveitadas por um dos seus Netos, João Paulo de Castro e Melo Trovisqueira, que as coligiu, enriqueceu e
desenvolveu, lançando aos seus descendentes o desafio da continuação desse
trabalho de genealogia, heráldica e estudo das casas e solares que foram
pertença e cenário da vivência da Família. Tal como a mim acontece ser quase
sempre salvo por um anjo, pode ser que neste caso também um anjo recolha este
desafio honrando a vontade de quem o precedeu, despertando “ sombras que
reavivam a memória e despertam os espíritos”: coisas que só mesmo um anjo pode
fazer!
Como a net é uma espécie de cerejeira virtual, à qual trepando não é
possível deixar de provar os seus frutos, de clique em clique descobri também,
e neste caso trata-se de pintura e beleza, que D. João de Castro era Pai de Brites Maria Filipa de Castro e Melo, Senhora de tal sensibilidade pictórica que não
resisto em obrigar-vos a admirar um dos seus auto-retratos,
onde encontro a mesma serenidade que me enleva na “minha” Suggia. Pintou outras
muitas coisas, sempre suaves e belas, naturezas mortas, paisagens da sua Vila
do Conde, cenas de vida quotidiana, mas aquele auto-retrato tem muito dos anjos
que me rodeiam, que procuro, e que, muitas vezes e por minha fortuna, me
aparecem nos momentos certos. E quem me garante que o anjo do pinheiro manso do
IPO não é o mesmo que perpassa por todo este confuso texto que fui alinhavando
em patchwork por falta de imaginação?
Anjo que, mesmo se gerado por Carlos
Magno e Afonso Henriques, se digna vir à terra ajudar os seus eleitos, sem
olhar a linhagem ou berço.
Natália Correia disse: "Creio nos anjos
que andam pelo Mundo". E eu tenho a certeza que o anjo que vi em Palhavã era
real, assim como a mensagem que me sussurrou. Lembro-me agora que tinha os
olhos claros e o cabelo como ouro. Juro que os anjos existem; conheço um
ou dois. Mas há muitos mais, basta que cada um procure os seus.
Abraço
Lisboa, 21 de Fevereiro de 2014
Octávio Santos
Octávio Santos
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