Escrevi no meu último texto que é a beleza que nos há-de salvar, e
repito-o porque me sentei a escrever sob uma Lua em quarto minguante, mais
mentirosa que nunca porque a sinto em quarto crescente, que ilumina nuvens com
a sua luz branca ao som da ária “BelleNuit, ô nuit d’amour”, Barcarola dos Contos de Hoffman, na qual duetam Ann
Murray e Jessye Norman, recordando a sua tocante utilização no filme
“A Vida é Bela”, em que o protagonista a faz ecoar por todo o lager, embora dirigido só a quem ele
sabe, a qual percebe que aquela melodia será a última declaração de amor que
dele recebe. Assim á fácil escrever coisas bonitas, direis Vós, enganando-vos e
enganando-me a mim que, infelizmente, não me sentei para escrever coisas
bonitas. A única atinência que o que escrevo tem com o que ouço é talvez o
retornar de tempos de constrição pelo medo, tempos que esperávamos arquivados
para sempre no file da mesquinhez e
da miséria humana.
Conforme fiz saber, este será o último texto desta série que
editarei no meu blogue, decisão há muito tomada porque, passado um ano sobre a
edição do primeiro, que aconteceu no dia em que completei 70 anos, exactamente
dois dias após o inesquecível 21 de Novembro de 2013, em que recebi dos meus
colegas da AICEP uma das melhores prendas que me foi dado receber na vida, a
qual não esquecerei nunca nem agradecerei o suficiente, mas dia também em que
conheci a infausta notícia que me iria abalar profundamente, a qual teve largo
reflexo nos textos editados, pedindo agora desculpa de vos ter dado a ler
coisas que afinal eram só minhas. Nunca agradecerei também o suficiente a todos, e foram muitos, os que me apoiaram e me deixaram mensagens de apreço e encorajamento. Bem hajam!
Estando nós a assistir, seja através dos desígnios do Califado
(EIIL, ISIL, EIIS, ISIS ou como lhe quiserem chamar), a um retorno à Idade
Média com todo o seu arsenal de atraso e terror, seja dos profetas da ultra
liberalização, a que me habituei a chamar “freenança”,
aos primórdios da era industrial, em que o valor das pessoas e do trabalho eram
ínfimos em relação àquele do capital, seja de alguns que, não tendo ainda
percebido que somos já todos controlados através dos instrumentos à disposição
dos “donos” da globalização informática, tentam métodos de controlo, não da
Idade Média, mas dignos das ditaduras fascistas e comunistas que nos
condicionaram a existência no século passado, uns fruto da maldade ou da
inveja, e outros só compreensíveis pelo clima de censura e autocensura
instalado pelo medo, e refiro-me a OPAS – Ofensivas Patéticas de Ameaça ou
Servilismo - hostis de que tenho sido alvo ultimamente, que mais não são que
ensaios de divisão entre o cronista bom e o cronista mau, como se fosse um banco, e que passo a
enumerar sucintamente, como forma de exorcismo.
- “Amigáveis” tentativas veladas de intervenção “junto a forças
invisíveis do além”, o que em bom
português se traduz por “rogar uma praga” e em italiano “fare una fattura”, tudo isto embalado em papel dourado com muitos
laços e fitas. Beijos de Judas de quem não sabe que eu sou uma das poucas
coisas que não está à venda em Portugal.
- Comentários anónimos, pretensamente ofensivos e denigrativos,
publicados no blogue, inofensivos frutos da mais praticada “virtude” nacional:
a inveja. Mesmo assim, dei-me ao trabalho de responder humoristicamente a
todos.
- Pindéricas alusões a minhas amizades (sem aspas) com políticos da
inócua mas incomodativa esquerda vulgarmente designada como “fora do arco da
governação”, numa acção do tipo “quem não é por mim é contra mim”. Não sendo
possível haver paz entre as oliveiras, prefiro ser amigo da Catarina que do
Ricardo; antes inconsequentes que ladrões.
- Numa de garantismo, legalidade e respeito pela honorabilidade de
cada um, foi-me dito que não se devem escrever coisas que não se podem provar.
Conselho amigo e sensato que, a ser seguido, reduziria ao silêncio a população
de um país que até agora só tinha duas celas para políticos e banqueiros, todos
honestos por insuficiência de provas. Conselho que agradeço mas que,
faltando-me a sensatez, não posso aceitar.
Mas não é, obviamente, por força destas OPAS que este 52º texto é o
último desta série mas, primeiro, porque geralmente faço o que digo e, segundo,
porque na verdade tenho projectos em mente que me vão ocupar muito tempo, os
quais, se conseguir levá-los a bom porto, serão bem mais úteis que estas ligeiras
crónicas semanais. Assim, esta crónica de hoje, 20 de Novembro, será, repito, a
última desta série, a de 27 será uma homenagem à poesia de outrem, e depois,
sem obrigatoriedade cíclica semanal, irei lá pondo, avulso e a granel, aquilo
que não for capaz de ter só para mim, mesmo que isso incomode alguém. Não tendo hoje
vontade de escrever mais, confirmando-se que o rabo é sempre o mais
difícil de esfolar, apeteceu-me “fugir” aos binómios fantásticos de Rodari e
tentar uma lengalenga com lógica e ligação entre as palavras que escorrem, como
esta célebre “O Senhor é Parvo”, que dedico aos lançadores de todas as OPAS, estas e outras, presentes e vindouras.
O Senhor é parvo
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O Senhor é parvo
Parvo é o Senhor Senhor dos Passos Passos do Concelho Concelho de Ministros Ministro da Guerra Guerra Junqueiro Junqueiro de Alcântara
Alcântara Mar
Mar da China China Xangai Xangai Xeque Xeque mate Mate quem Mate o Senhor O Senhor é parvo Parvo é o Senhor........(e repete indefinidamente)
Lança uma OPA
Lança uma Opa
Opa da Irmandade
Irmandade do Santíssimo
Santíssimo Espírito Santo
Espírito Santo de orelha
Orelha de porco
Porco capado
Capado da Sé
Sé de Faro
Faro de cão
Cão de caça
Caça na mata
Mata africana
Africana rica
Rica menina
Menina de coro
Coro dos Escravos
Escravos da droga
Droga de vida
Vida perdida
Perdida por cem
Cem euros em acções
Acções na bolsa
Bolsa roubada
Roubada por Nos
Nós ficar sem nada
Sem nada, Meo!
Meo era do Sapo
Sapo sem veneno
Veneno de cobra
Cobra africana
Africana rica
Rica como Rei
Rei da cortiça
Cortiça pra rolha
Rolha pra tapar
Tapar tua boca
Boca sem palavras
Palavras sem honra
Honra perdida
Perdida por cem
Cem acções na bolsa
Bolsa de valores Valores já mortos Mortos pela lança Lança uma Opa........(e repete indefinidamente) |
Lisboa, 20 de Novembro de 2014
Aqui está alguém que não deixará de vir espreitar de quando em quando, na expetativa de saber o que se passa contigo e com o resto, já agora...
ResponderEliminarBeijos, Clem.
Cara Azinheira,
EliminarContinua a espreitar que não te desiludo; não pelo que se passa comigo, que não é relevante, mas pelo resto que não deixa de nos deslumbrar neste país de génios sempre prontos a ultrapassar outros génios, pena que quase sempre por inveja. Os Beatles criaram um submarino amarelo que correu mundo, um descendente de Sacadura Cabral inventou dois dourados, com periscópio gold com vistas para o nosso saguão.
Beijinho
Octávio
eehehehe, maravilhoso!... Soa a mantra e sabe a pouco :-)
ResponderEliminarBjinho
F