Era a última lição,
e para mim foi incompreensível a presença mitigada de 8/9 pessoas em relação às
quase 20 da primeira. Procuro os porquês das coisas e raramente os encontro.
Mas não interessa para o caso, nem vou perder tempo com isso, o que importa é
que tenho de escrever uma carta de amor a um quadro, mais uma vez do Pedro
Casqueiro, e novamente a sorte me bafejou com uma figura de mulher, embora
segundo as 3 Marias das “Novas Cartas Portuguesas” isso não tenha qualquer
importância, dado que não é o destinatário de uma carta de amor que interessa,
nem tão pouco a paixão que nela revelamos exprimindo-a, mas que tudo não passa
de um exercício de escrita, sendo tudo o resto apenas um “pretextuoso”
acessório, e como dizia Sir Hob, “tudo o que sai do contexto é pretexto, e nada
que seja “pretextuoso” é nobre”. Não sei se elas, e o próprio Sir Hob, se
entendem a si próprios, mas vá de segui-los. Sempre fui um “Maria vai com as
outras”.
Assim, aquela
figura desfocada (na imagem) tendo como cenário aquilo que me pareceram peles
de zebra, levaram-me inevitavelmente à fantástica história de Edgar Rice Burroughs,
e depois foi fácil compor o ramalhete e armar-me em homem-macaco à procura de
emoções menos peludas, com a vantagem de trocar as estolas das epístolas do
dorso de um burro para aquele de uma zebra, o que já é uma promoção quanto mais
não seja em termos de moda.
E vá de me servir
mais uma vez do cinema com alusões ao “Avatar”, ao “Tarzan do 5º Esquerdo” com
o saudoso Solnado, e à Tóbis, templo do velho e também saudoso cinema
português, e a uma conversa que tive com Julião Sarmento no seu antro da Várzea de
Sintra, após uma sua digressão
artística na Amazónia durante a qual trocou os seus brancos por verdes, quando
lá levei uma troupe de uma das
televisões de Sua Emittenza Sílvio Berlusconi.
Depois foi só
lembrar-me de inventar o que não foi, porque os sonhos são sempre melhores que
a realidade, e idealizar os teus sussurros no meio da floresta para me sentir
uma besta pelos gritos que dou, dei e continuarei a dar enquanto Deus me der
forças e me seja consentido pelos avatares que a todo o custo estão a tentar, e
conseguir, tomar conta da nossa floresta “com ideias estranhas na cabeça”.
E mais nada,
encerrando aqui os 8 textos que dediquei à Escrita Criativa e voltando à outra
minha escrita que de criativa tem pouco, limitando-se a contar episódios que
vivi, que pensei ter vivido ou que gostaria de viver, e, por vezes, a descrever
coisas reais que os outros não veem, não querem ver, ou não lhes é permitido
ver na confusão da vida virtual que levam na ilusão de ser verdadeira.
22 de Maio de 2014
Octávio Santos
Segue o texto que
inspirou aquele editado em 17 de Abril, intitulado “Escrita criativa de um
menino em liberdade condicional com tempo para escrever uma carta de amor, não
sabendo ainda se terá coragem para a remeter ao destinatário”, no qual, por
trágicas manigâncias do destino, escrevi uma carta de amor verdadeiro a um
destinatário agora mais real que nunca.
Culturgest
Fundação da Caixa
Geral de Depósitos
Escrita criativa
11 de Abril de 2014
Exposição
Marginalia de Pedro Casqueiro
Tema: Género epistolar
Obra: Sem
título,2007
Serigrafia e
acrílico sobre tela, Colecção Particular
Minha querida Jane,
Não me tinhas ainda
visto, só ouviras o meu grito e saíste nua da cascata onde te banhavas,
assustada porque não te pareceu um grito de zebra da manada que te rodeia, e eu
escondido a ver-te envergonhado porque estavas nua, eu também, mas eu sou
assim, sempre vivi assim e o meu sentimento de pudor é igual ao da Chita, ou
seja igual a zero, e por isso não quero revelar-me para que não te envergonhes
de me ver envergonhado. O Sol de África bate-te directamente na cara e não te
vejo os olhos, só os cabelos caídos, uma boca que deve saber melhor que uma
papaia, e o resto, todo o resto que não sei ainda se é verdade ou um holograma
criado por Avatares para me confundirem. Sabes que têm aparecido seres
estranhos ultimamente na floresta e eu, que nunca tive medo de leões e
leopardos tenho receio destes bípedes como eu, com ideias estranhas na cabeça.
As tuas zebras são verdes ou é apenas o reflexo da cor da floresta e da água da
cascata? Talvez tu não saibas mas um dia falei com um pintor português, o
Julião Sarmento, quando fiz “O Tarzan da 5º Esquerdo”, nos estúdios da Tóbis, e
ele disse-me que na floresta o branco para ele era verde porque é essa a cor
dominante, e a acreditar nele - não sei de os portugueses são de confiança – as
tuas zebras são como todas as outras brancas às riscas pretas ou o contrário,
mas para que é que eu estou aqui a perder tempo com estas conjecturas quando já
sei o fim da história, que te vou aparecer em todo o meu esplendor, nu como tu,
e vais perceber que fomos feitos um para o outro por força de não haver mais
ninguém à nossa volta, como aconteceu ao Adão que só tinha a Eva, e corro para
ti, paro a uma distância de segurança e agora consigo ver-te os olhos que têm
um brilho que eu nunca vi, nem nas águias, e avanço uma mão para afastar os
teus cabelos que te cobrem os seios, e tu deixas fazer, com um sorriso de
aceitação, como se estivesses para sempre ali à minha espera para tudo o que
uma mulher pode fazer com um homem-macaco, e agora sou só homem, e apesar de
saber que a Chita está a espreitar nervosa e inquieta nos ramos do imbondeiro,
deixei de ser o seu meio-macaco para ser o teu homem inteiro, e abraço-te,
toco-te, roço os meus lábios pelo teu nariz até chegar à tua boca e ter a
loucura daquele gosto que nenhum fruto tropical pode alcançar, e faço-te deitar
nas folhas do chão e deito-me sobre ti, e colo cada centímetro do meu corpo a
cada milímetro do teu, e eu que nunca percebi ter incomodado ninguém com o meu
grito bestial nem que fosse às 4 da manhã, assusta-me ouvir os teus gemidos às
5 da tarde com medo que acordes os animais da selva com um som nunca antes
escutado, mas que é música de vento e água a correr para os meus ouvidos, mas
não sei qual é a reacção de antílopes e facocheros. Desculpa Jane se te escrevo
esta carta, inventando o que não foi, mas só queria que percebesses que mesmo
sem te conhecer, porque continuo à tua espera e caso venhas um dia é assim que
tudo se vai passar porque te sonho assim, tens de ser linda e sensual senão
quem vai querer contar a nossa história e dela fazer tantos filmes? Neste
momento lancei o meu mais formidável e lancinante grito para que tu me ouças e
saibas, em nome do nosso amor futuro, que tudo vai ser assim e podes vir já
amanhã, porque todos os nossos amanhãs serão iguais.
Teu Tarzan, (cada
vez menos animal porque te espera!)
Octávio Carmo de
Oliveira Santos
Sobre a escrita do bloguista não me quero pronunciar; ele lá saberá o que pretende se é que alguém o entende. O que quero é deixar os meus parabéns pelo aniversário daquela que é a verdadeira alma deste espaço, que começa pelo requintado bom gosto da gráfica. Um grande beijinho de parabéns pelos seus ?? anos, fazendo votos que os possa festejar até aos ???.
ResponderEliminarCaro (a) Anónimo (a),
EliminarDeixando-me a prova provada de que me lê, e é isso que conta, não é que fico feliz por não apreciar a minha escrita, agradecendo, no entanto, a maneira elegante como o declara. Mas estou, e estamos todos consigo no dar os parabéns à Cristina, desejando-lhe um Feliz Aniversário e muitos, muitos, anos de vida, vivida fatalmente a pensar mais nos outros que em si própria. Não lhe deixo daqui um beijinho porque lho irei dar pessoalmente. Para si um abraço e fique bem.
Caro(a) Anónimo(a),
EliminarMuito obrigada pela sua gentileza, mas não fiz nem faço mais do que apoiar um grande amigo, a dar continuidade àquilo que sei que lhe dá um imenso prazer fazer e que tão bem faz, que é esta arte de escrever e de uma gota fazer um oceano.
Agradeço também as congratulações, em particular por desejar que os festeje até ???, o que me deixa muito feliz por existir a hipótese de vir a fazer concorrência ao Manuel de Oliveira.
Um abraço.
Cristina
Compreendo o comentário do autor sobre o facto de na última lição do curso de escrita criativa terem participado apenas 8 ou 9 pessoas quando no início eram quase 20. O autor procura as razões e não as encontra (mas penso que deve imaginá-las) e eu como não estive no curso, consigo dizer (quase ingenuamente) que deverão existir muitas razões, mas a mais provável será o desinteresse quase normal, ou melhor, habitual das pessoas que começam cursos que não são mesmo obrigatórios, mas que dependem da vontade própria de participar e finalizar alguma coisa que começaram só por interesse, curiosidade ou o que fosse. Penso que se trata de uma quase falta de respeito ou consideração pela organização, pelos professores (julgo que houve mais do que um) e até pelos outros participantes. Assim, demonstraram (depois de terem iniciado) que quiçá ao curso faltou qualquer coisa (interesse, qualidade, ...). Ora eu penso que não foi nada disto que faltou, porque um curso desta natureza vale mais pelos participantes e a sua participação do que por outra coisa qualquer. Será que tenho alguma razão? (DFC)
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