quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Festival do cinema do faz de conta. Montagens simples e duplas. Vacas loucas e Crazy “Gay” Horse. Realidade e ficção. Cenas filmadas antes de acontecerem. Sangue ou sumo de tomate? Mortos que continuam vivos e vivos que já estão mortos (sem saberem). Assassinos com Nikon e assassinos com AK 47. Não se assustem, é tudo cinema! Pensavo fosse amore invece era un calesse. Uma ilusão. Ma dimmi quando, quando…encontraremos resposta, ou é só mais uma ilusão?


Quando, em 2013, meu último ano de trabalho,  esperava diariamente pelo 27 ou pelo 38 na Avenida da República para ir até às Necessidades,  via sempre um cidadão romeno (ou moldavo, que a língua é a mesma) sentado no passeio em frente à “Bella Italia”, mão estendida à caridade dos passantes. Um dia vi chegar junto dele um grupo de compatriotas muito mais jovens que, com modos bruscos lhe despejaram o copo de plástico das esmolas, lhe revistaram os bolsos retirando mais moedas e o apostrofaram duramente ao constatarem a magreza da receita obtida naquela manhã. A semana passada, durante o meu passeio matinal acelerado, voltei a encontrar o pedinte, agora com mais um ano e muitos meses, mais alquebrado que antes, arrastando os pés e a bengala no mesmo passeio, na sua prática diária de esmolar, atravessando mesmo a Elias Garcia e indo até à entrada do Metro numa acção de potenciamento da sua actividade na mira de alavancar os seus proveitos.  Seguindo-o com os olhos vejo aproximar-se um dos seus “protectores” que, encostando-se a ele, lhe meteu directamente as mãos nos bolsos do velho e surrado  sobretudo e começou a contar as moedas ao mesmo tempo que, com a rispidez própria da sua superioridade física e hierarquica, dirigia palavras que adivinhei pouco amistosas ao ”agente ganha pão” da sua actividade empresarial. Segui o meu caminho acabrunhado, primeiro por não ter tido a coragem de intervir, e segundo por ter a certeza que se me dirigisse à Esquadra da PSP das Avenidas Novas para denunciar quanto vos conto, não só não resolveria o problema como iria encontrar um monte deles, com um interrogatório e a obrigação de apresentar provas, e sem a certeza de não me estar a expor a outros incómodos e até a perigos. Já me lembrei de contar tudo ao Dr. Garcia Pereira, que encontro todas as manhãs a passear o cão, ou vice versa,  mas hesito com receio de ir ao encontro de mais uma desilusão. Também não é nada comigo e até pode ser que se trate de uma representação popular tradicional dácia, e que alguém esteja a filmar tudo com uma Go Pro, para posteriormente montar um documentário étnico. Com este pensamento fico muito mais tranquilo e vou à minha vida. 

Tenho ultimamente acompanhado o meu Neto André à praia de Carcavelos onde vai praticar surf, seu desporto favorito, e tendo de esperar duas horas que ele brinque com as ondas, comecei por passear ao longo dos agradáveis e concorridos passeios  da costa, da Parede a St. Amaro, depois pela areia a descobrir todos os recantos da praia, respirando simplesmente ar puro e iodado, até que  um destes dias me pus a apanhar todo o tipo de lixo que encontrava no areal com a finalidade de fazer com ele uma instalação,  na esperança de aceder à notoriedade da Joana Vasconcelos embora não tenha topado com qualquer Tampax ou OB que fosse. O certo é que enchi três sacos de plástico com tudo o que me veio à mão e não vos vou fazer uma lista dos exemplares que desencantei no meio de alforrecas mortas e cascas de mexilhões, mas uma coisa me chamou a atenção: ter encontrado,  durante três manhãs de pesquisas intensas,  uma só seringa daquelas usadas pelos tóxico dependentes – que recolhi servindo-me de uma embalagem de Calipo -, o que para mim foi um bom sinal e, vendo na água voltearem  alegre e ruidosamente dezenas de rapazes e raparigas, me veio de pensar que se os Ministérios da Saúde e da Segurança Social destinassem somas idóneas e consistentes ao fomento deste desporto ( e doutros), a poupança seria considerável, não só nas contas destes Ministérios como naquelas dos da Justiça e da Administração Interna, mas também ao nível global de todo o país, isto é, de nós todos, isto se pensarmos naquelas alocadas presentemente à luta contra a tóxico dependência  Mais um lirismo utópico do velhote, direis vós, ou pior, uma das suas forçadas montagens facilmente desmontáveis. 

Como nunca cumpro o que prometo vou revelar, para além da seringa, uma outra coisa que encontrei misturada no lixo da praia: um paralelepípedo  daquela espuma verde usada nas floristas, com restos de flores espetadas, apresentando-se como se de uma prenda natalícia se tratasse, dado que tinha à sua volta duas fitas de tecido com laçarotes e tudo. Aproximei-me curioso e vi que as fitas tinham mensagens escritas, e a amarela dizia: 

- Homenagem aos jovens do Meco

- Homenagem a todos os mortos do mar

 
Naquela branca, por seu lado, podia-se ler:

 
- À mãe natureza a sua divina protecção

- 2015

- Paz às suas almas 

Não me vou pôr para aqui a fazer conjecturas sobre quem lançou aquilo ao mar, nem como ali foi parar, mas fez-me impressão ver no lixo algo relacionado com a vida, a morte e a dor das pessoas; preferia ter encontrado um relatório sobre o estado da Justiça em Portugal e uma lista dos seus intocáveis, mas até no Reino de Carcavelos as lixeiras não cumprem a sua função. Até pode acontecer que alguns inimigos invejosos do DUX tenham encenado tudo aquilo ali mesmo, montagem para comover e dar que pensar a papalvos como eu que não sabem (ou não querem?) viver num mundo repleto de ratoeiras. 

Comecei por estas “historietas” para adiar a parte difícil, como fazem os miúdos no domingo à noite com os trabalhos da escola, mas vamos a isto  que o que tem de ser tem muita força. 

Recebi no dia 19/12, de pessoa amiga que muito considero e cuja seriedade não está em jogo, um e-mail acompanhado de 22 imagens chocantes relacionadas com o que está a acontecer no Médio Oriente, e de uma reflexão profunda, justa e sacrossanta. Acontece que, no mesmo dia, reencaminhei tal mensagem, com todos os seus anexos, a todos os meus amigos e amigas, tendo recebido de volta algumas manifestações de repúdio e horror e, sobretudo, dois alertas que, por virem de pessoas igualmente amigas e merecedoras da minha consideração e atenção, passo a divulgar nas suas partes essenciais, e a comentar empiricamente à minha maneira: 

1º Alerta

Pena seja que ainda o Ocidente quiçá por cumplicidade politica com alguns estados árabes “coniventes,” não tenha sabido como abordar a questão radical religiosa. A Europa que teve uma inquisição, devia não esquecer isso e saber como agora lidar com a problemática; só quando o principio do livre arbítrio for introduzido na cultura muçulmana, e assim o homem muçulmano se libertar da tirania da hipocrisia, da dita blasfémia,  quando o muçulmano só o for por opção própria e não por nascimento, e ser muçulmano por opção  própria, ou mesmo não o ser, se começará a poder esclarecer e controlar o fenómeno. A Europa já matou em nome de Deus, mesmo sem autorização escrita; afinal parece que a historia se repete com sujeitos diferentes, apesar e "pour cause" do esquecimento de muitos.

2º Alerta     

Tenho muitas reservas à partilha de textos e/ou imagens recebidos de outrem, principalmente quando tem uma carga emocional associada muito forte. Pelo que: 

1 - algumas das fotos menos chocantes aparecem noutros sites, atribuídas a outros locais, por exemplo:

       - a igreja a arder na Índia,  http://www.emalayalee.com/varthaFull.php?newsId=85984

       - as crianças a rezar/chorar em gaza,  http://www.aporrea.org/ddhh/n255589.html

 
2 - as fotos mais chocantes aparecem em sites católicos: 

        - http://www.catholic.org/news/international/middle_east/story.php?id=56481, a publicação já tem 4 meses e é replicada, parcial ou totalmente, noutros sites; a foto da  criança decapitada já aparece desde 2009 associada ao Egito   e não as encontro em sites de notícias de referência (é certo que não leio árabe...), pelo que a veracidade das fotos é incerta, o próprio snopes tem dúvidas,   http://www.snopes.com/politics/war/isis.asppor

Peço que compare o minuto 1:26 do video - https://www.youtube.com/watch?v=yXUM0-Cxvr0 - com a imagem que contem duas fotos, uma duma jovem viva e da suposta mesma jovem amarrada a uma cama cheia de sangue e com uma cruz na boca... 

O vídeo  retrata  o "trabalho" de um canadiano dedicado aos efeitos especiais. Gosto duvidoso, sem dúvida, mas não um crime, pelo menos não o que se pretende retratar... 

Nada disto abona em favor do Estado Islâmico e outras criaturas afins, obviamente, mas o problema da publicação de fotos "falsas" misturadas com "verdadeiras", seja por ignorância ou intencionalmente, não pode merecer credibilidade; apenas um desabafo contra reencaminhamentos sem verificação. 

Posto isto, começo por agradecer seja a quem, na sua boa fé,  me transmitiu as imagens, seja a quem, com a sua amizade, me alertou para a sua falta de veracidade, seja ainda a quem, com o seu conhecimento de causa,  me chamou a atenção sobre as nossas “culpas” em todo este processo, sigo pedindo desculpa pela minha “ligeireza” ao transmitir  material cuja idoneidade não verifiquei, lembrando humildemente uma frase de Don Oreste Benzi, padre italiano que será santo não tarda muito: “Se queremos viver, e morrer, de pé, teremos muitas vezes de nos pôr de joelhos” e, como me restam poucas certezas, termino fazendo perguntas avulso como aconselhava o meu mestre Claude Lévi-Strauss: 

- Será que tudo aquilo que se passa no mundo, sem imagens verdadeiras, ou falsas que sejam, não existe? 

- Que diferença fazem as imagens verdadeiras daquelas falsas, quem se importa com isso, e quem as pode distinguir? 

- Qual a verdade que nos é transmitida por filmes como a Bíblia, Spartacus, Titanic, Soldado Ryan, Apocalipse Now, Dia D, Roma Cidade Aberta e outros? 

- Seriam verdadeiras as imagens das execuções de Elena e Nikolai Ceaucescu, de Khadafi e de Saddam Houssein, a que todos assistimos sentados nos nossos sofás? 

- As imagens com que a televisão nos bombardeia todos os dias correspondem à verdade, ou são uma montagem romanceada,  exagerada ou minimizada segundo os interesses em jogo,  do que se está realmente a passar? 

- Não será preferível que escapem algumas falsidades, a omitir tudo por falta de provas, e estou a lembrar-me, por exemplo,  da violência doméstica? 

- Fiz mal em fazer, e publicar em 2013, umas quadras tipo António Aleixo, mas indignas dele, a dizer que o Vara era um ladrão? 

- Precipitei-me quando sugeri, e publiquei em 2011, um novo texto para o 7º Mandamento? (Não roubar: certos banqueiros e políticos não admitem concorrência) 

- Esconder a extensão  do escândalo GES/BES até ao limite da indecência,  foi arma legítima usada pelo poder político e económico? 

- Temos de nos defender das montagens feitas para desmontar verdades, ou daquelas feitas para demonstrar mentiras? 

- Seriam verdadeiras as execuções sumárias de inocentes filmadas pelos agentes do Estado Islâmico, ou foi só uma encenação para nos meter medo? 

- Aquilo a que assistimos a semana passada em França foi um trailer de uma nova telenovela intitulada “Je suis Charlie”? 

- Quem foi mais blasfemo contra o Profeta, os cartoonistas do Charlie Hebdo ou os seus assassinos? 

- Porque é que as vítimas de um ataque mais que anunciado tinham tão escassa e descuidada protecção? 

- Como Torquemada já morreu, My Lai, Wiriamu e Araguaia estão esquecidos, alguém me vai enviar imagens de Abu Ghrabi, Guantanamo, Gaza,  Xinjiang ou de drones assassinos de inocentes, mesmo falsas,  para me ressarcir divulgando-as? 

- Quando os fanáticos de uma religião declaram  guerra santa a outra religião, é obrigatório que os não fanáticos dessa religião recolham o desafio, ainda que os seus fanáticos tenham desencadeado uma há 800 anos? 

- Porque é que as religiões politeístas não são tão atreitas a guerrearem-se entre si como o são as monoteístas? 

Sou um chato, mas gostaria que tivessem a paciência de ler, ou reler, um papel que publiquei na página 29 e seguintes do meu livrinho “Hieróglifos Órfãos de Roseta”, em 2011 (embora o tivesse escrito muito antes), intitulado “O Silêncio, a Reflexão e a Dúvida”, e que elevassem um pensamento para aquele polícia franco-tunisino morto a sangue frio no passeio como um cão vadio, que pagou com a vida o seu trabalho em defesa da liberdade, e também ao velho Galileu que, condenado por afirmar que a Terra rodava em torno ao Sol, encolheu os ombros aceitando a sentença  proferindo o já estafado “Eppur si muove!” 

Como já não sei o que digo e me falta o discernimento para distinguir o real do irreal, o bem do mal, o sangue do sumo de tomate,  como daqui em diante vou passar a dizer que admiro muito o programa da Senhora Júlia Pinheiro desde que revelou, por um dos chacais de serviço, todos os pormenores da doença da Laura Ferreira, apesar do legítimo pedido em contrário do Marido,  como irei brevemente em peregrinação a Évora para abichar um indulgência política plenária,  embora pense que  é mais perigosa a banalização do mal que dizer de vez em quando algumas mentiras, vou acabar na galhofa, chamando-vos a atenção para a imagem que escolhi para ilustrar o texto de hoje. Quando, e foi no tempo das vacas loucas, a transmiti  aos colegas acompanhada de um daqueles altos pensamentos filosóficos a que vos habituei, uma das mais ingénuas, ou talvez não, respondeu-me que se tratava de uma montagem. Dupla, minha cara, dupla, respondi eu! 

Abraço.

Lisboa, 15 de Janeiro de 2015.
Octávio Santos

 








PS: Não escondo que ficaria muito feliz se isto provocasse uma maré de comentários… amistosos bem entendido.