quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Desesperada e pessimista crónica cheia de esperança e optimismo de naufrago de verão na cidade quente que disserta sobre os frutos crescidos na árvore criada por um homem e dos homens que poderão fazer com que novas árvores dêem frutos no futuro com um estúpido sonho no fim e uma mão cheia de vírgulas para uso individual.

 

Neste torpor de um Agosto escaldante passado na cidade grande por força da escassez de uma reforma curta que agradeço todos os dias a Sto. António e a Nossa Senhora de Fátima pensando naqueles que só a poderão ter mais magra se a tiverem mesmo esses felizes se comparados com os que se lançam todos os dias ao Mediterrâneo na longínqua esperança de um futuro que só este ano para mais de dois mil jaz no fundo engolido pelas ondas que para uns ondulam para mergulhar e surfar para outros para desaparecer e para mim para admirar o seu vai vem misterioso igual ao do fogo que nos consome o país e idêntico ao do meu pensamento que se umas vezes se concentra no que quero a maior parte do tempo divaga pelo universo daquilo que não  deveria existir e podia não existir não fosse a interessada indiferença de quem lucra e a cobardia cómoda e justificada de quem padece mas tudo isto são banalidades expressas por um que sabe que a verdade não existe mas que sente a obrigação de a procurar lembrando a estafada advertência que nos cantavam aos ouvidos que quem tem 20 anos e não é comunista é porque não tem coração mas quem tem 40 e  continua a sê-lo não tem cabeça nem coração acrescento eu que ao contrário da maioria que nasce pirómano e morre bombeiro nasci pirómano e morrerei pirómano porque as ondas do fogo como as da água do mar dão motivos para que as do pensamento continuem a fazer-me mal ao percorrerem o irreal da realidade que nos apresentam virtual ao alcance dos sentidos e à qual me sinto ligado pelo fio invisível de um papagaio de papel que lanço no ar e faz de antena que nos dias de hoje capta pouco de bom mas mesmo assim me traz notícia do holandês que levou anos a fazer enxertos para criar uma árvore que dá 40 frutos diferentes árvore que não serve de exemplo a quem hoje continua a estender arame farpado e a construir muros para separar amantes de tâmaras e fruta-pão de gulosos de peras e cerejas devotos da cruz de encadeados pelo crescente barrigas cheias de barrigas vazias mimosos do jardim da abundância de ressequidos do vento do deserto e o meu papagaio continua a voar em todas as direcções e manda-me imagens do Vlora calhambeque flutuante ma non troppo que de Durazzo chegou a Bari em 1991 com mais de 20 mil fugitivos da miséria albanesa que foi o início de todos os barcos da esperança que hoje despejam os que sobrevivem em Lampedusa e em Kos para escaparem para Calais ou Subotica de onde quase à vista do sonho britânico ou germânico se empilham em piras de desesperados travados por túneis e muros às quais não se deita fogo porque não se trata de pinheiros ou choupos lusitanos mas assistimos a camionistas também lusitanos a contarem na televisão que tiraram 11 do meio da sua carga impedindo-lhes a travessia e esquecendo que um dos heróis do seu país se chamava Aristides Sousa Mendes mas isto não interessa a ninguém e do lixo que se varria para debaixo do tapete para parecer às visitas que a casa estava limpa passámos àquele que atirávamos ao mar porque lá no fundo deixava de se ver e ao que queimávamos e continuamos a queimar nos aterros das lixeiras clandestinas ou não porque o fumo vai para o ar para agora fabricarmos tudo na China com as consequências  de que vimos  uma amostra agora que Hiroshima fez 70 anos confundindo as imagens de ambos os desastres mas este foi muito longe da nossa casa e o outro foi longe no tempo continuando a empurrar  tudo com a barriga cheia em nome do projecto da “freenança” que nos há-de engolir a todos mesmo aqueles que a inventaram e no-la estão a impingir como boa e inevitável todos na primeira fila a assistir a diversões circenses de faz de conta como milionárias transferências e por enquanto “só” 17 candidaturas tudo inventado pelos mesmos para distrair veraneantes ao sol do Allgarve que não querem perceber que para além das mesas cheias dos restaurantes do lado de cá do lado de lá do seu mar quentinho se estão a preparar novos Hiroshimas e Tiangins que só cá não chegarão com a força com que estão a avassalar outras praias porque os muito desesperados sabem que não é de outros  desesperados como eles embora menos que podem esperar salvação.

Ao reler o texto acima, e não tendo eu próprio entendido grande coisa, senti-me como Linus van Pelt sem o seu cobertor azul, e então deixo-vos para distribuírem como bem entenderem uma meia centena de vírgulas, o que pode ser até um bom exercício tipo Sudoku para praticarem na praia à sombra do chapéu de sol, com os meus melhores e mais sinceros desejos de boas férias:
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Alguém definiu a loucura como fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes. A propósito de tudo isto e dos meus sonhos, do último recordo apenas de ter visto vagamente um homem rico e um homem pobre diante um do outro, ambos com um ar ameaçador e cada um com uma faca na mão; reparando melhor seguravam-na do lado da lâmina e das mãos escorria sangue. Estúpido sonho, como todos os sonhos!

Abraço 
Lisboa, 20 de Agosto de 2015
Octávio Santos




4 comentários:

  1. Mergulhados de um só fôlego nesta torrente de escrita que mais parece resultado de um delírio febril lembrando um certo “desassossego” de outros eus sempre sempre lúcido e lancinante a agitar a nossa existência inerte de valores esquecida ou que os deixou morrer de vez dando-nos requebros de esperança nos variados frutos coloridos como papagaio de papel que insiste em voar e a levar-nos pela mão sem destino desviando-nos do buraco que nos/os há-de engolir a todos………………………………...................................................................
    AeM

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    1. Caros anónimos AeM,
      Embora tenha matado a cabeça à procura de descobrir quem são, porque AeM pressupõe dois, obrigado por não terem usado pontuação no vosso comentário, com excepção da extensa reticência final. Apesar das apreciações que, para mim, são como ambrósia e mel no meu percurso de “educador do povo”, as reticências finais deixaram pendurados os outros eus, que neste equilíbrio entre o que se deve e o que se deveria, acabam sempre por sair derrotados, engolidos pelas reticências. Resta a esperança que nos traz o papagaio de papel que insiste em voar e a levar-nos pela mão, espero que, mais tarde ou mais cedo, com destino.
      Abraço
      Octávio

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  2. Sempre dei muito apreço a este blog e prevejo assim continuar, no entanto não quero deixar de notar que a lembrança que nos leva ao "desassossego" antigo, e que faz agitar a nossa existência inerte de valores (como refere o anterior comentador), não me impede de pensar que este tipo de delírio não se compara à verdadeira loucura daqueles que não conseguem entender o caminho que estão a seguir e que poderá levar outros atrás.

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    1. Caro(a) anónimo(a),
      Obrigado pela fidelidade, mas tem de concordar comigo que o “desassossego” nunca é antigo sob pena de nos aquietarmos e termos a tentação, por comodidade ou desconsolo, de, como ratos, seguirmos estes mal paridos flautistas de Hamelin. Dizia O’Neill que RATOS NUNCA!
      Abraço
      Octávio

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