quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Tony (Amália), Cavaco, Cabral, Aristides, Saramago, Marcelo, Ronaldo, Marco, Veloso + Oliveira, Sindika, Isabel, Morais, Moreira, Obiang + Jardim, Santos + Bando dos 30, Quadrilha da Banca, Belém, Coelho, Vera, Grilo, Soares, Alegre + Amorim, Barroso e Moedas.



Não tendo hoje nada para vos dizer, aproveito para vos propor  o que escrevi a semana passada sobre assuntos sérios, e que acabei por não vos transmitir pelo e-mail do costume para não os misturar com anedotas. É que persiste um conflito entre o autor dos e-mails e o destas crónicas, não tendo ainda ambos chegado a um acordo sobre a linha de fronteira que separa a galhofa para desmontar o trágico,  da seriedade para glorificar o inconcebível, sendo os verbos sublinhados intercambiáveis, ou seja, de qualquer maneira não se percebe o que digo.
 

1 -  Tony Carreira foi agraciado pelo governo francês com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, como antes dele Amália, Bob Dylan, Groucho Marx, Umberto Eco, Sean Connery, Václav Havel, Paolo Portoghesi e Dustin Hoffman, entre tantos,  e até aqui tudo bem, Cavaco Silva também condecorou o alfaiate da Mulher e eu ainda devo ter numa gaveta uma medalha de reconhecimento por apego ao trabalho, da República Popular  da Bulgária. 

Se não sabem ficam a saber que considero o cantor como um produto menor da música ligeira portuguesa, mas isso são coisas minhas e uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa (Pombo Branco dixit). Tendo o artista mostrado vontade de vir a receber a sua prestigiosa  condecoração na Residência de Sua Excelência o Embaixador de Portugal em Paris, recebeu do mesmo uma não resposta que é o mesmo que dizer que “levou com a porta na cara”.  Para os mais distraídos lembro que os Embaixadores são os representantes pessoais do Chefe de Estado na capital dos países que aceitam recebê-los para exercerem essas funções, e que a casa onde vivem, paga por todos nós, é, não só a sua Residência como, e assim me ensinaram todos, ou quase todos, os Embaixadores que tive o privilégio de servir, a casa de todos os portugueses residentes,  ou de passagem,  nesse país. Assim, e para não me alongar, o Senhor Embaixador comportou-se mal ao não abrir larga  a porta da “sua” casa e os seus próprios braços ao,  por mim e atrevo-me a adivinhar, por ele próprio, mal amado artista. Poderá o Senhor Embaixador encontrar nos meandros da Lei, ou nos manuais da diplomacia, razões muito válidas para a atitude que tomou em nome dos seus gostos pessoais, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros emitir uma nota pouco convincente desculpando o seu agente diplomático, mas o Embaixador Moraes Cabral deveria ter-se lembrado que não foi por respeitar as Leis e directivas vigentes que hoje todos, e sublinho todos, se inclinam perante a grandeza de Aristides Sousa Mendes. Só uma coisa concedo a Sua Excelência: como representante pessoal de Cavaco Silva, seguiu-lhe o exemplo dado em relação a José Saramago. Que não é Tony Carreira. Espero agora que o novo Presidente da República, que já anunciara que uma das suas primeiras acções será de reconhecimento a Cristiano Ronaldo, siga o exemplo gaulês e decore o peito de Marco Paulo, a festejar 50 anos de carreira, com, pelo menos, a Ordem do Infante. Cantava Rui Veloso, que não é Tony nem Marco, na sua Valsinha das Medalhas,  “quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos, que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos”, isto antes de pôr o seu à disposição no 10 de Junho.

2 - A casa de Manuel de Oliveira foi vendida à Fundação Sindika Dokolo, do nome do Marido da Senhora Dona Isabel dos Santos, por 1,58 Milhões de euros. Não tenho nada contra,  mas faz-me confusão que a Câmara Municipal do Porto não tenha encontrado esta verba para que os portuenses ficassem com a casa de um dos maiores filhos da Cidade Invicta, quando dispôs de 9 Milhões desses mesmos euros para comprar o Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro, que no dizer de Paulo Morais valia apenas 4, para uma estação do Metro do Porto que nunca foi construída. E uma outra coisa me faz espécie sabendo-se, mais ou menos, as condições em que vivem as populações de Angola e do Congo: como é que se “ganha” tanta massa?  Garantiram-me as minhas fontes que a Fundação, que já anunciou a intenção de instalar a sua sede mundial no Porto, iria lançar uma OPA sobre Serralves, e que o Presidente da Guiné Equatorial está a pensar adquirir os terrenos da Feira Popular, em Lisboa,  para construir a “Cidade da Democracia Lusófona”. Vamos ficar atentos.

3 – Não gostei mesmo nada que o Alberto João Jardim fosse o único a não honrar, ou a não ter percebido que não honrou, a memória de Almeida Santos, ao afirmar que ele tinha sido o grande impulsionador da Zona Franca da Madeira. É que ele há coisas que o respeito pelos mortos não consente de lembrar  na triste ocasião do trespasse. E digo isto porque vi com os meus olhos a ZFM, também conhecida por CINM - Zona Internacional de Negócios da Madeira -  que, gerida pela SDM, Sociedade de Desenvolvimento da Madeira, tinha como objectivo promover o investimento estrangeiro através de benefícios fiscais e aduaneiros e, como sectores de actividade, um parque industrial com infra-estruturas  apropriadas à produção industrial de bens, um registo internacional de navios - MAR – com especiais benefícios para os armadores registados, e os serviços internacionais, incluindo trading, consultoria ou “qualquer  serviço de âmbito internacional”.  E o que vi foram 5.883 empresas, a maioria italianas e reduzidas a caixas de correio, 82% delas sem qualquer trabalhador, 230 navios a desfraldar bandeira madeirense de favor por esses mares fora, e o PIB da RAM a arvorar números falsos de uma saúde doente. O que não vi, porque alguém achou melhor que as câmaras de televisão italianas da RAI 2  não fossem lá meter o nariz e as objectivas, foi o parque industrial do Caniço porque só lá havia 4 ou 5 fabriquetas, tendo-me alguém dito off record que uma delas era chinesa e fabricava à máquina “bordados da Madeira”, coisa que não acreditei só podendo tratar-se de uma provocação de qualquer cubano inimigo do arquipélago. Por tudo isto a ZFM era, ou foi,  um offshore nunca reconhecido pela OCDE. Vir agora o Jardim invocar os méritos de Almeida Santos pelo impulso que deu a esta realidade pareceu-me, não só descabido, como ofensivo para a memória do ilustre e saudoso político. É como se alguém se atrevesse a vir  perguntar o porquê do velório na Basílica da Estrela, sem qualquer cerimónia religiosa, a pedido do extinto, quando há palácios em Lisboa, com digníssimos templos, mais apropriados à funesta circunstância.

4 – O Tribunal Constitucional veio-nos dizer, para gáudio dos ex-PAF, que não é  infalível,  e que nem sempre a sua justiça é salomónica. O princípio da confiança, que agora invocou para devolver direitos de mordomia àqueles (alguns) a quem demos o poder, não serviu para os cortes de salários e pensões. Como, em princípio, todos perdemos a confiança, sobretudo depois dos roubos dos bancos – BPN, BPP, BES, BANIF e senhor que se segue (tenham confiança) -, devidamente avalisados pelo Banco de Portugal, resta-nos o desespero diante de mais esta bóia que nos é negada em nome do nada que se instalou mesmo debaixo dos mais impermeáveis mantos. Pior que tudo isto foi a divulgação da lista do famigerado “grupo dos 30”, com a sua execranda legenda, que só pode ter vindo de partidos desta vez impolutos, porque dela ausentes,  ainda por cima com a baixa e vil intenção de atingir apenas um dos visados, o que transforma o acto numa verdadeira matança de inocentes em Belém. Ainda por cima inútil porque a visada já se tinha “suicidado” ao demitir-se, durante a desastrosa campanha, das altas funções a que aspirava, mesmo  antes de lá ter chegado, para desespero de Coelho, Vera, Grilo, Soares, Alegre e outros que embarcaram numa nau que deveria desembarcar em Belém, e não naufragar  no Tejo por inépcia da timoneira.

5 – Caiu em cima da Cimeira de Davos a notícia que 1% da população mundial tem mais de seu que os restantes 99% (1/100 > 99/100), e que  62 desses ultramegamultimilionários têm o mesmo que metade do resto dessa mesma população, {(total y - 62) : 2 = 62}. Cá por casa soubemos que 2 milhões de ordenados mínimos nacionais teriam de amealhar todos os seus rendimentos durante três meses para chegarem aos calcanhares dourados do Senhor Américo Amorim (2.000.ooo x 3 = 1).  Tenho a certeza que vai sair da cimeira, ainda por cima com a participação de Barroso e Moedas, qualquer esboço de projecto de intenção para uma actuação visando a solução. Se assim não for, ou eu estou lúcido varrido, ou este nosso planeta começou a rodar ao contrário e já não há nada nem ninguém que o segure para que volte a uma normalidade que, afinal,  nunca teve.  Até quando?

Abraço.
 
Lisboa, 28 de Janeiro de 2016
Octávio Santos

6 comentários:

  1. Caro Ostinato,
    Quaisquer que sejam as suas crónicas, são sempre interessantes. Aborda temas diversos
    e importantes (sérios). Pessoalmente, aprendo com muitos deles e por isso lhe fico grata. Descrença, indignação, angústia, são alguns dos sentimentos que nos perturbam.
    Veremos o que ainda se nos irá deparar neste país e mundo turbulentos. Posso perguntar-lhe o porquê de não ter respondido à minha intervençãona sua crónica anterior? Foi distração ou intencional? Veja crónicas de 17-9-2015 e 24-9-2015,por favor. (F.I.)

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    1. Cara Anónima F.I.,
      Sempre agradecido pelas suas apreciações que espero um dia negativas. Posso perguntar-lhe porque não presta atenção ao seu novo "trabalho"? Foi distração ou intencional?
      Octávio

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    2. Caro Ostinato,
      Agora que me preparava para a primeira crítica negativa, fiquei sem coragem após ler as suas respostas sem sentido e de mau gosto. O novo trabalho, existe de há muito. Aprecio leituras interessantes com as quais aprendo bastante. Tenho por hábito dar a minha modesta opinião a vários autores, alguns meus amigos e também seus conhecidos. Para o trabalho que executo de momento, utilizo pincéis e tintas, tendo forçosamente que lhe dedicar mais tempo, a fim de cumprir compromissos.
      Como sou teimosa, insisto que falhou um texto...Porque será que sou a única incógnita (por interesse), que o incomoda? O que verdadeiramente me dá que pensar, é como uma pessoa com as excelentes qualidades que já referi anteriormente, consegue ter ao mesmo tempo tantos defeitos. «Não dá a cota com a perdigota» Sem ofensa, permita que lhe diga que o acho um homem pouco resignado, sempre em busca de si próprio. Também o vejo solitário, no sentido de que se fecha em si mesmo. (F.I.)

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    3. Cara Anónima F.I.,
      Devia ter percebido logo que era fã do Tony Carreira, e a critica negativa teria sido muito bem vinda; estou sempre pronto a dar a cara. Não foram as minhas respostas que lhe tiraram a coragem, porque um anónimo nunca é corajoso. A mim, já pouco me incomodam qualidades ou defeitos, meus ou de outros; o que me incomoda é a auto assunção da imbecilidade dos pávidos. Como não desejo que o meu blogue se transforme em facebook, ou sucedâneo, diga lá em que texto falhei para lhe poder dar a última resposta depois desta. Como gosta de aprender digo-lhe que o adágio citado refere "bota" e não “cota”, que não passou de um lapso freudiano que desmente a apregoada juventude. Continuarei, sempre, em busca de mim mesmo, só que muito bem acompanhado, e nem calcula por quantos.
      Octávio

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  2. Lapso freudiano, será para os ignorantes. O provérbio está correcto e significa que a cota ( ponto de mira da arma ), não dá certo com a perdigota (o alvo a atingir). Quero lá saber que seja comum dizer a «bota»...Nada tem a ver com perdigota! E por aqui me fico, não sem lhe dizer que talvez quem goste do Tony Carreira, sejam as avózinhas...Coisa que nunca fui.

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    1. Cara Anónima F.I.,
      Prometi que era a última resposta e assim será. Confesso a minha ignorância quanto à duas versões do provérbio, mas os ignorantes usam sempre a forma mais popular:
      O que está registado no Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões, é: Não dar a bota com a perdigota. Significa «não jogar certo; haver acentuada diferença». Também aparece assim registado na obra Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas de António Nogueira Santos, com significados semelhantes.Por outro lado, o Dicionário de Expressões Correntes de Orlando Neves regista a expressão desta forma: Não dar a bota (cota) com a perdigota.Nenhum destes dicionários dá conta da origem expressão.Em conclusão: pode dizer-se, parece-me, das duas maneiras, mas a forma usual é: Não dar a bota com a perdigota.
      Quanto á minha solidão e à sua juventude desejo-lhe que, para saber o que é bom, chegue a avózinha, bisavó ou mesmo trisavó; visto o azedume já não falta muito.
      Octávio

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