quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Ano Novo Vida Nova (nem no título me quis alargar hoje leiam que é rápido e não chateia ninguém Bom Ano Novo e Boa Vida Nova caso tenham coragem de estabelecer um programa e sobretudo cumpri-lo coisa que eu já sei não poderei fazer com o meu e nisso sou igual ao Costa).


 
Juro que desta vez também se não for desta quando vai ser é que vou cumprir tudo o que pus no rol das boas intenções para 2016 e vou escrevê-lo aqui lá isso vou para depois não poder arranjar desculpas tipo unha encravada pneu furado ou caganeira merdeira que essas já toda a gente sabe que são de mau pagador e eu que sempre paguei tudo com juros altos e língua de palmo não me ia pôr agora a borrar a pintura e a desfazer o mito de pessoa séria que não sou só porque um andaço de preguiça me colou à televisão em pijama ou porque a sesta se prolongou para além do lícito e higiénico assim vou fazer uma lista para que me possam chamar aldrabão por falta de cumprimento e sem falar da multiplicação das idas ao ginásio e de passar a beber água em vez de outros líquidos com ou sem bolhinhas sempre com açúcar para além da crónica do blogue que está garantida todas as quintas-feiras até 2043 também é fácil a ver pela de hoje que me levou em desespero de causa por falta de assunto a sentar-me e estar aqui a seguir a caneta sem interferência do cérebro tanto que estou a pensar que deveria estar a fechar as contas domésticas de 2015 para saber em que devo cortar em 2016 para não chegar ao fim com saldo negativo como o país mas tenho esta obrigação pronto a culpa é dos poucos pouquíssimos leitores que ainda me seguem como caçadores de pegadas de dinossauros na Lourinhã mas hoje estou a ver se os faço desistir por falta de fôlego para  me sair desta airosamente como sempre escapo de tudo muitas vezes pelo buraco da agulha daquele por onde nem os camelos passam quanto mais os burros mas ia fazer a lista e já me pus a sair da minha estrada que desconfio não vai dar a lado nenhum só sei que tenho de escrever o livro sobre o Juvenil do Diário de Lisboa que já está todo dentro da cabeça e não me vai custar 15 euros por digitalização de página na Fundação Mário Soares mas 1,16 euros na nova Hemeroteca do Fernando Medina tudo socialistas mas parece-me que terei de comprar uma caneta nova que não seja independente e fútil como esta e outra também para pôr em letra de forma um repertório anotado das Notas do Dia que escrevi para os colegas do então icep com letras pequeninas entre Outubro de 2004 e Janeiro de 2005 que a encontravam quentinha todas as manhãs no pc e que já tenho também alinhavado na caixa dos pirolitos que bole e rebole se entretanto o Sr. Alzheimer não os beber todos na ânsia de ter de fazer agora e aqui a lista das intenções mas tenho de as pôr em fila para saírem uma de cada vez sem se atropelarem a outra coisa é ou seria a de arrumar tudo o que tenho apanhado por aí com a vontade de construir qualquer obra de arte pobre a partir do quase nada e ainda a de pegar em quatro telas de um metro por um metro para fazer a minha primeira pintura uma coisa que fosse assim entre o nada e coisa nenhuma mas que visto ao longe à distância dos pés da cama tivesse uma harmonia cósmica que me ajudasse a dormir  e a sonhar com outras coisas que fosse possível transpor para a realidade mais um tronco em forma de cabeça de cavalo que apanhei num rego de água na fronteira entre o Alentejo e o Algarve ou seja entre o Crato e o Pego Amarelo e que sempre que olho para ele me vejo a traficá-lo com seixos e conchas que apanhei numa praia daquele mar onde ultimamente enterramos os filhos dos outros mas lá estou eu outra vez a tentar entrar em portas fechadas que dão para a escuridão quando tenho tantas abertas à minha frente cheias de luz também me lembrei de escrever um romance histórico à José Rodrigues dos Santos para fazer umas coroas para além dos tostões que faço com o gás e o bacalhau mas não tenho negros mas mesmo que os tivesse não saberia por onde começar já que não sei nada da história senão aquilo que os protagonistas nos contam o que é quase sempre mentira pior se forem os vencedores a fazê-lo porque a primeira mentira é a de que há o lado dos bons e o lado dos maus quando são alcateias flutuantes que se misturam para confundir os historiadores e também para mim fazer história não é quando se realiza aquilo que tive a ousadia de prever  para poder dizer vejam como sou bom e ajudo a fazer a história mas pelo contrário quando sou desmentido pela realidade  o que acontece quase sempre e passo ao lado da história feita pelos que não falham ou se falham é sempre por culpa dos outros e por isso desisti lembrei-me também ao ver  na exposição de pintura espanhola no Museu Nacional de Arte Antiga umas naturezas mortas do Goya de fazer uma não pintada mas uma cena tipo colagem com coisas como nozes e avelãs rebuçados uma caixa de vinho do Porto um cesto com um pano de cozinha com ervas e ramos secos talheres oxidados barros miniatura roubados ao presépio já que não posso pendurar uma codorniz morta por perigo para a saúde pública mas sim umas cascas de caracóis e uns escaravelhos secos pensei também escrever sobre Mulheres mas quem se atreve a escrever seja o que for sobre um demónio sem o qual a vida seria um inferno? 
 

Abraço. 
 

Lisboa, 7 de Janeiro de 2016
Octávio Santos
 

PS: Como a morte é uma doença que ataca muito durante as festas e contaram-me de um que tropeçou num travessão saltou um parágrafo e estatelou-se na nova linha não havendo nada a fazer evitei pontos  vírgulas e casamentos entre ambos resumindo-me ao ponto de interrogação final esperando não vir a embater nas vossas reticências.


4 comentários:

  1. Caro autor,
    começo por lhe desejar um Bom Ano 2016,sempre com a mesma irreverência,lucidez e
    criatividade. Os seus leitores irão ficar alerta, para verificar se as suas promessas serão cumpridas. Não fora a sua alergia ao Facebook, por certo teria muitos mais seguidores...Afinal sempre vamos ter uma tela com inspiração cósmica?
    Adorava ver! Este seu final de texto é de morrer a rir....Safam-se as Benditas Mulheres! (F.I.)

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    1. Cara Anónima F.I.,
      Muito Bom 2016 também para si e para todos a quem quer bem. Os leitores podem ficar alerta já que cumpro (quase) sempre as minhas promessas que, não tendo data limite, poderão falhar por questões ligadas a esta nossa estúpida falta de eternidade. Quanto a seguidores bastam-me os que tenho, não estando disposto a pagar preços incomportáveis para a conta bancária da minha liberdade. Lamento desiludi-la mas não vai ter oportunidade de ver a tela gigante pois que, sendo ela destinada a ser vista “à distância dos pés da cama” não é visitável, estando esta definitivamente ocupada. Felizmente que não morreu a rir para continuar a comentar, alimentando, estas minhas crónicas. As Mulheres, tal como os Homens, safam-se sempre embora por razões diferentes: eles por serem safados por natureza, elas por serem, como bem diz, Benditas!
      Octávio
      PS: Agora que se auto promoveu comentadora oficial deste blogue, porque não procura as 11 crónicas que até agora não mereceram qualquer comentário para avaliar se são merecedoras do favor de um seu?

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  2. Estimado autor,
    passo então a explicar a razão de não ter comentado mais textos deste seu blog.
    Só tive conhecimento do mesmo em 2015. Apercebi-me que já publicara dois livros, comprei-os,li-os e gostei.Não tencionava comentar um único texto,por não me sentir minimamente preparada para tal.Também não sou grande artista a escrever,há anos que o não faço,tendo dificuldade em sintetizar.Acresce que as excelentes críticas que li,ainda me inibiam mais de o fazer.Mas,eis que um dia,a vontade de expressar algumas qualidades que reconheci na sua escrita,deu origem ao meu primeiro comentário.Depois,sabe-se lá porquê,foram-se seguindo outros.
    Vou então reler alguns dos textos anteriores e tentar pronunciar-me sobre os mesmos.Aliás,já o fiz acerca dos que me recomendou.
    Terminada esta retórica,gostava de reforçar a ideia da enorme quantidade de crianças com essas características que não está a acontecer por acaso.
    Quanto ao Marcelo,se lá chegar,palpita-me que vai ser um desassossego tanto para
    a esquerda como para a direita.Não resisto a contar-lhe uma história passada com ele num supermercado.Estava eu a tentar perceber qual o vinagre balsâmico que havia de comprar,quando ele se aproximou perguntando-me se era apreciadora. Respondi: Sim, lá em casa todos gostamos!Então vou-lhe oferecer o melhor que existe no mercado. E lá insistiu, oferecendo-me um frasco muito bonito e que não foi nada barato...Na minha opinião ele é uma pessoa simpática , alegre e espontânea,características que também possuo. Termino com uma pergunta:Então se
    concretizar a ideia da sua tela não pode tirar uma foto e partilhar connosco? (F.I.)

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    1. Cara F.I.,
      Agora que finalmente a identifiquei, isto é, que sei que é a única pessoa que comprou os meus livros em 2015, já posso agradecer este facto e também aquele de ter aceitado ser comentadora oficial, pro bono, para a precisão, vindo agora em socorro das minhas crónicas órfãs de comentário. Em relação às crianças hiperactivas, estou de acordo que elas se multiplicam em razão inversa aos Pais, e são talvez mais um sinal da passagem de homo erectus a homo tecnologicus. Vamos a ver. Quanto ao Marcelo, nosso futuro PR, concordo com o desassossego e o rebuliço que irá espalhar da Soeiro Pereira Gomes ao Caldas, passando por Belém, com uma grande roda para os meninos escapados à Casa Pia, um spa, com aulas de kuduro, para velhinhas solitárias, e um banquinho no jardim para o único sócio do Grupo Onomástico os Anibaizinhos Pobres da Freguesia de Boliqueime. Conheço-lhe a “raça”, dado ter privado com muitos desses na escola para meninos ricos que frequentei na primária, por força da larga visão do futuro de um Pai que era pobre, e lembro-me como olhavam para mim: também eu não era fácil já que, não sei se por ideologia ou por falta de dinheiro, esse mesmo Pai nunca me comprou a farda da Mocidade Portuguesa, que era o orgulho desses meninos. Falando de vinagre balsâmico, o mais caro que conheci era aquele Tradicional de Modena que, num frasquinho do designer Giugiaro, custava em Roma no ano 2.000, 150 mil liras. Belo presente de um (des)conhecido! Para acabar, não descurando nada, quem sabe se, caso a obra nasça enxuta, não se poderão organizar visitas guiadas?
      Octávio

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